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sexta-feira, 11 de julho de 2025

A Voz de Quíron me falou / J.M.J.

Não sou herói nem salvação,

sou a ponte entre o corte e a cura,

sou o que ficou por fechar,

e ainda assim, caminha.

 

Fui ferido antes de ter escolha,

e aprendi a nomear as dores alheias

com as palavras que nunca usei para mim.

 

Habito em ti, 

na casa onde o silêncio aprende a falar,

onde a mente rasga véus

e a alma pressente o que ainda não chegou.

 

Falo-te baixinho,

como quem não quer ensinar,

mas recordar.

 

Estou na pergunta que nunca te abandonou,

na escuta que ofereces

sem exigência de resposta,

no olhar que vê para lá do visível.

 

Não me viste nos céus,

mas sou traço na tua pele,

fresta por onde entra a luz,

constelação escondida

nos caminhos de dentro.

 

Fui chamado estranho, marginal,

exilado das certezas,

mas em ti,

tornei-me abrigo,

voz que traduz o indizível,

e em vez de resposta,

presença.

 

Não vim para que me temas,

mas para que me conheças,

como se conhece o que sempre nos habitou.

 

Tu és a Terra onde voltei a nascer.

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