Não sou herói nem salvação,
sou a ponte entre o corte e a cura,
sou o que ficou por fechar,
e ainda assim, caminha.
Fui ferido antes de ter escolha,
e aprendi a nomear as dores alheias
com as palavras que nunca usei para
mim.
Habito em ti,
na casa onde o silêncio aprende a
falar,
onde a mente rasga véus
e a alma pressente o que ainda não
chegou.
Falo-te baixinho,
como quem não quer ensinar,
mas recordar.
Estou na pergunta que nunca te
abandonou,
na escuta que ofereces
sem exigência de resposta,
no olhar que vê para lá do visível.
Não me viste nos céus,
mas sou traço na tua pele,
fresta por onde entra a luz,
constelação escondida
nos caminhos de dentro.
Fui chamado estranho, marginal,
exilado das certezas,
mas em ti,
tornei-me abrigo,
voz que traduz o indizível,
e em vez de resposta,
presença.
Não vim para que me temas,
mas para que me conheças,
como se conhece o que sempre nos
habitou.
Tu és a Terra onde voltei a nascer.
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