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sábado, 12 de julho de 2025

O Homem do Pó e da Palavra / J.M.J.

Não nasceu em tronos, nem em letras douradas,

mas no pó quente das estradas de pedra,

onde os pés descalços falam mais

do que as sandálias dos reis.

 

Não trazia coroa,

mas vento no olhar

e silêncio entre as mãos.

 

Falava de justiça

como quem conhece a fome,

tocava os doentes

como quem nunca temeu ser impuro,

e sentava-se com prostitutas

como quem sabe que o amor

não cabe nas leis dos homens.

 

 

Chamaram-lhe profeta,

e também herege,

seguiram-no por esperança,

mas mataram-no por medo.

 

Não escreveu livros,

mas deixou pegadas

em corações que ardiam por dentro.

 

 

E depois,

depois contaram a sua história

em línguas que ele nunca falou,

em templos que ele nunca ergueu,

com dogmas que ele nunca ensinou.

 

Fizeram dele Deus,

para esquecer que foi Homem.

 

 

Mas ainda hoje,

quando alguém dá sem pedir,

quando alguém se levanta contra o poder em nome da compaixão,

quando alguém ama os invisíveis,

 

aí está ele,

sem glória,

mas com verdade,

sem templo,

mas com fogo.

 

E se fores ao deserto

e ouvires o vento…

pode ser que o ouças também:

não com os ouvidos,

mas com a sede.

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