Seguidores

quinta-feira, 10 de julho de 2025

Os que ninguém vê / J.M.J.

Trabalham no que ninguém quer,

com mãos calejadas e nomes que se tropeçam na pronúncia.

Ganham mal. Vivem pior. Dormem onde houver canto,

entre paredes húmidas, colchões partilhados,

longe da mãe, da mulher, da voz que os chamava por inteiro.

Aprendem a língua com os olhos,

a cultura, com a pele

e ainda assim, são odiados.

 

Do outro lado, os senhores das cifras

tecem lucros com dedos invisíveis,

fogem ao fisco por entre brechas legais

e chamam-lhe estratégia;

descontam carros e festas como se fossem ferramentas de trabalho,

e são aplaudidos por criar riqueza

que não tocam, que não suam,

mas ostentam como medalhas.

 

A dignidade, essa, ficou algures entre o tijolo e o talão,

entre quem levanta o país

e quem se deita sobre ele.

Sem comentários:

Enviar um comentário