Trabalham no que ninguém quer,
com mãos calejadas e nomes que se
tropeçam na pronúncia.
Ganham mal. Vivem pior. Dormem onde
houver canto,
entre paredes húmidas, colchões
partilhados,
longe da mãe, da mulher, da voz que
os chamava por inteiro.
Aprendem a língua com os olhos,
a cultura, com a pele
e ainda assim, são odiados.
Do outro lado, os senhores das
cifras
tecem lucros com dedos invisíveis,
fogem ao fisco por entre brechas
legais
e chamam-lhe estratégia;
descontam carros e festas como se
fossem ferramentas de trabalho,
e são aplaudidos por criar riqueza
que não tocam, que não suam,
mas ostentam como medalhas.
A dignidade, essa, ficou algures
entre o tijolo e o talão,
entre quem levanta o país
e quem se deita sobre ele.
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