Prometem-nos a eternidade como triunfo,
mas não é a vida que se prolonga, é o domínio.
Num mundo onde uns não morrem
e outros continuam a desaparecer,
não nasce um futuro,
constrói-se um abismo:
entre os que detêm o tempo
e os que o servem.
Seriam os imortais mais humanos?
Ou apenas mais eficazes na crueldade,
mais frios na posse,
mais distantes na sua ausência de perda?
As máquinas não bastariam,
precisariam de espelhos,
e esses espelhos seriam os mortais,
mantidos de pé
apenas para refletirem inferioridade.
Sem morte, não há urgência,
sem urgência, não há entrega,
sem entrega, não há criação.
A imortalidade que nos prometem
não nos eleva,
aprisiona-nos num teatro de poder sem fim,
onde a fragilidade deixa de ser beleza
e passa a ser castigo.
Humanos seríamos,
mas desumanamente sós.
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