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sábado, 12 de julho de 2025

A ilusão imortal / J.M.J.

Prometem-nos a eternidade como triunfo,

mas não é a vida que se prolonga, é o domínio.

 

Num mundo onde uns não morrem

e outros continuam a desaparecer,

não nasce um futuro,

constrói-se um abismo:

entre os que detêm o tempo

e os que o servem.

 

Seriam os imortais mais humanos?

Ou apenas mais eficazes na crueldade,

mais frios na posse,

mais distantes na sua ausência de perda?

 

As máquinas não bastariam,

precisariam de espelhos,

e esses espelhos seriam os mortais,

mantidos de pé

apenas para refletirem inferioridade.

 

Sem morte, não há urgência,

sem urgência, não há entrega,

sem entrega, não há criação.

 

A imortalidade que nos prometem

não nos eleva,

aprisiona-nos num teatro de poder sem fim,

onde a fragilidade deixa de ser beleza

e passa a ser castigo.

 

Humanos seríamos,

mas desumanamente sós.

 

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