Foi ontem que te encontrei,
embora os calendários gritem
milénios ou promessas longínquas.
Foi ontem,
na dobra secreta do tempo,
onde os que se conhecem de antes
se voltam a reconhecer.
A tua voz não me surpreendeu,
era como a brisa de uma casa antiga
que nunca cheguei a habitar,
mas que sempre soube existir.
Falámos sem palavras,
porque já tínhamos dito tudo
noutra travessia,
noutro corpo,
noutro nome.
E agora,
como quem se lembra de um sonho
com cheiro a terra molhada,
preparámos o próximo encontro,
num espaço que não se mede,
num tempo que não se calcula.
Nesse lugar,
as feridas não terão nome
e os silêncios serão abrigo.
Não haverá pressa,
nem peso,
nem despedidas.
Apenas a certeza tranquila
de que nada se perdeu,
e que a vida,
essa viagem circular e ardente,
sabe sempre
como reunir os que se amam
sem saber porquê.
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