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sábado, 12 de julho de 2025

Lá longe / J.M.J.

Lá longe,

as mãos pequenas não têm tempo para escola,

cosem sapatos de luxo,

fazem brinquedos para crianças que não são elas.

Lá longe,

o riso é substituído por metas

e os pulmões por poeira.

 

Mas aqui,

basta um botão para tocar em tudo,

uma encomenda que ignora a pergunta,

um sorriso que vem com a caixa

e uma etiqueta que não traz o nome

de quem a bordou com a infância.

 

Consumir sem culpa,

comer sem lembrar o bicho,

comprar sem saber do suor

e usar sem saber quem usou primeiro o cansaço.

 

Lá longe é uma invenção,

uma cápsula de distância para enterrar a consciência,

mas lá longe, não é longe,

é agora, é dentro.

 

E talvez o luxo mais obsceno

não seja o objeto,

mas o esquecimento.

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