Não nasceu para a prisão de um papel,
nem para o altar do silêncio que o veste de ferro.
O homem, esse animal ferido de cultura,
foi desenhado com mãos de barro e contradição.
Traz no peito a memória do útero
e nas veias, a fome do encontro.
Não se fez para o isolamento da fortaleza,
mas para a pele, o suor,
o olhar que o desarma e o nomeia.
Foi-lhe dito que chorar era fraqueza
e desejar o semelhante, pecado.
Mas ele sonha com ombros que o entendam,
com braços que não exijam guerra
para se abrirem.
O homem, esse filho órfão da verdade,
procurou a força no espelho partido da virilidade,
e chamou vitória à negação da ternura.
Ergueu reinos sobre o medo,
destronando o ventre que o gerou.
Mas há um tempo a chegar
em que ele há-de despir os mitos,
e calçar os pés descalços da alma.
Há-de encontrar no outro homem
não o inimigo nem a prova,
mas o espelho onde se aceita e se reconhece.
A sua virilidade não será contada
pelos corpos que conquistou,
mas pela liberdade que ofereceu ao desejo.
Não será medida pela dominação,
mas pela coragem de se render ao que sente.
Quando esse tempo vier,
o amor deixará de ser ato político,
e será apenas o que sempre foi:
uma verdade antiga
a reclamar morada em corpos sem culpa.
Esse é o homem novo.
Não o que venceu,
mas o que se tornou inteiro.
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