Quando era pequeno,
acreditava que um dia inventariam
o elixir da vida
e seria eterno,
e viver seria sempre doce,
sempre novo,
como o cheiro da terra depois da chuva.
Na infância,
a morte era um erro de cálculo,
uma distração dos deuses,
e o mundo, um lugar
onde cada manhã era descoberta,
e cada noite, um intervalo breve
antes de voltar a brincar.
Hoje,
não sei se quero viver,
quanto mais,
ser eterno.
A vida pesa
como um casaco que não posso despir,
e a ideia de voltar,
reencarnar, repetir,
tem o sabor agridoce de um karma antigo,
que já me conhece os passos.
Às vezes,
imagino o descanso
de fechar os olhos e não voltar.
Há beleza também na inexistência,
no não-ser que não exige,
no silêncio que não cobra.
A eternidade, talvez,
não seja bênção,
talvez seja a infância que não soube
aceitar que tudo termina.
E nisso,
há também uma graça:
a de viver sabendo
que um dia se parte,
e que mesmo isso
pode ser luz.
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