Seguidores

sábado, 12 de julho de 2025

A criança que queria ser eterna / J.M.J.

Quando era pequeno,

acreditava que um dia inventariam

o elixir da vida

e seria eterno,

e viver seria sempre doce,

sempre novo,

como o cheiro da terra depois da chuva.

 

Na infância,

a morte era um erro de cálculo,

uma distração dos deuses,

e o mundo, um lugar

onde cada manhã era descoberta,

e cada noite, um intervalo breve

antes de voltar a brincar.

 

Hoje,

não sei se quero viver,

quanto mais,

ser eterno.

 

A vida pesa

como um casaco que não posso despir,

e a ideia de voltar,

reencarnar, repetir,

tem o sabor agridoce de um karma antigo,

que já me conhece os passos.

 

Às vezes,

imagino o descanso

de fechar os olhos e não voltar.

 

Há beleza também na inexistência,

no não-ser que não exige,

no silêncio que não cobra.

 

A eternidade, talvez,

não seja bênção,

talvez seja a infância que não soube

aceitar que tudo termina.

 

E nisso,

há também uma graça:

a de viver sabendo

que um dia se parte,

e que mesmo isso

pode ser luz.

Sem comentários:

Enviar um comentário