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sábado, 12 de julho de 2025

Cansaço dos deuses / J.M.J.

O Homem não deixaria de ser Homem

nem mesmo imortal

e continuaria a doer,

a desejar,

a procurar um fim

que lhe desse forma.

 

Alimentado de saber,

perderia talvez o sentido crítico,

não por ignorância,

mas por delegação:

a mente entregue à máquina,

o espírito rendido à eficácia.

 

Seria corpo em extensão infinita,

instinto anestesiado,

movido por algoritmos

que o fariam parecer mais alto,

mais sábio,

mais justo…

mas apenas parecer.

 

A liberdade tornar-se-ia palavra vã,

eco de uma memória esquecida,

e nessa eternidade sem risco,

sem urgência,

sem queda,

despertaria a crise mais antiga:

a de não saber quem é.

 

Cansado de ser deus,

rogaria um dia

pela bênção esquecida:

o fim.

 

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