Não sou eu quem escreve,
é uma corrente mais funda
que se insinua no gesto,
como água que sabe o leito
antes de o tocar.
Há um pensamento que me antecede,
uma vibração que se instala
muito antes de qualquer palavra.
Quando escuto de verdade,
é ela quem pensa por dentro de mim.
Não é mente que calcula,
é mente que canta,
mente que sabe os veios do tempo,
mente que arde sem ferir
porque traz a luz do que é inteiro.
O Todo não se fecha em forma,
o Todo sonha-se e realiza-se
e somos parte desse sonho,
fragmentos conscientes de uma ideia
que nos atravessa e nos recria.
Por isso me calo antes de cada
frase,
por isso tremo quando o poema se
aproxima,
porque sei:
não sou autor,
sou escuta,
não sou fonte,
sou caule.
Sou um ramo atento da Mente Viva,
um lugar onde o universo se lembra
de si.
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