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sábado, 12 de julho de 2025

Os Que Ninguém Ousou Ver / J.M.J.

Não eram monstros,

eram miúdos sem janelas,

criados na noite,

com os ossos a doer de fome e medo.

 

Roubaram porque aprenderam

que o mundo não dá, tira.

Mataram porque ninguém os ensinou

a não morrer por dentro primeiro.

 

Chamaram-lhes selvagens,

demónios, escória,

mas nunca lhes perguntaram

em que abismo nasceu o grito.

 

Nunca escutaram o silêncio

antes do disparo,

nem nunca tocaram as cicatrizes

escondidas nas pupilas.

 

Cada um deles era uma história não lida,

um corpo que queria abraço,

mas recebeu paulada,

um sonho morto à nascença.

 

Mas tu,

que caminhas com olhos de raiz

e não de folhas,

vê-os.

 

Sabes que há dor no que foi feito,

mas também sabes que há dor

no que fizeram dele

e nesse saber

começa o milagre.

 

Não para absolver,

mas para curar,

não para esquecer,

mas para lembrar que ninguém nasce cinza.

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