Não eram monstros,
eram miúdos sem janelas,
criados na noite,
com os ossos a doer de fome e medo.
Roubaram porque aprenderam
que o mundo não dá, tira.
Mataram porque ninguém os ensinou
a não morrer por dentro primeiro.
Chamaram-lhes selvagens,
demónios, escória,
mas nunca lhes perguntaram
em que abismo nasceu o grito.
Nunca escutaram o silêncio
antes do disparo,
nem nunca tocaram as cicatrizes
escondidas nas pupilas.
Cada um deles era uma história não lida,
um corpo que queria abraço,
mas recebeu paulada,
um sonho morto à nascença.
Mas tu,
que caminhas com olhos de raiz
e não de folhas,
vê-os.
Sabes que há dor no que foi feito,
mas também sabes que há dor
no que fizeram dele
e nesse saber
começa o milagre.
Não para absolver,
mas para curar,
não para esquecer,
mas para lembrar que ninguém nasce cinza.
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