Ergue-se a voz do império,
como quem sopra cinzas ao vento;
grita tarifas, levanta muros,
mas esquece que o eco
bate no aço que ele próprio forjou.
As palavras pesam como chumbo,
mas os frutos não nascem da ameaça,
e o trigo não se curva à bravata.
O comércio é rio,
não gosta de barragens:
contorna, escava,
descobre novos leitos.
Na Europa, uma resposta contida;
no Brasil, um silêncio que prepara;
e, nisto, o mundo aprende a dançar
sem o mesmo tambor.
Quem fecha portas
acaba por falar sozinho,
e até as fábricas, um dia,
aprendem a fugir do ruído,
para onde a troca ainda seja semente,
e não arma.
O luxo da força é breve,
mas o tempo não tem pressa,
e até os gigantes
aprendem a negociar
quando a fome entra pela porta de trás.
(Este poema nasceu da necessidade de olhar para além
das manchetes, de perceber que as guerras comerciais não se travam apenas com
números e decretos, mas com escolhas humanas que moldam o futuro. As fronteiras
mais duras são, por vezes, feitas de papel.)
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