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domingo, 13 de julho de 2025

Fronteiras de papel / J.M.J.

Ergue-se a voz do império,

como quem sopra cinzas ao vento;

grita tarifas, levanta muros,

mas esquece que o eco

bate no aço que ele próprio forjou.

 

As palavras pesam como chumbo,

mas os frutos não nascem da ameaça,

e o trigo não se curva à bravata.

O comércio é rio,

não gosta de barragens:

contorna, escava,

descobre novos leitos.

 

Na Europa, uma resposta contida;

no Brasil, um silêncio que prepara;

e, nisto, o mundo aprende a dançar

sem o mesmo tambor.

 

Quem fecha portas

acaba por falar sozinho,

e até as fábricas, um dia,

aprendem a fugir do ruído,

para onde a troca ainda seja semente,

e não arma.

 

O luxo da força é breve,

mas o tempo não tem pressa,

e até os gigantes

aprendem a negociar

quando a fome entra pela porta de trás.

 

 

(Este poema nasceu da necessidade de olhar para além das manchetes, de perceber que as guerras comerciais não se travam apenas com números e decretos, mas com escolhas humanas que moldam o futuro. As fronteiras mais duras são, por vezes, feitas de papel.)

 

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