Há quem aprenda a dor
como se aprende um papel.
Ensaiam o suspiro,
o gesto no peito,
a pausa que finge sentir.
Tiram do bolso símbolos,
com a destreza de um mágico,
que sabe onde o olhar do público
deve pousar,
não no truque,
mas na emoção fingida.
Falam de fraqueza
como quem vende força,
falam de fé
como quem ensina medo,
e falam do povo
sem saber quem é.
Alguns aplaudem,
outros choram,
poucos percebem
que é tudo ensaio
para o papel principal:
ser espelho do que mais se teme.
Porque às vezes, o que mais nos
fere
é o que arde por dentro: abafado,
disfarçado.
E ao atacar o rosto do outro,
revela-se o contorno que se teme no
próprio.
A máscara cai,
não pelo cansaço do papel,
mas pelo peso da verdade encenada
e quem mais se afasta do reflexo,
mais o incorpora sem querer.
No chão,
já sem artifício,
a máscara devolve o espelho
inteiro.
Por fim, o pano cede,
mas no escuro já se ouve o próximo
ato.
(Num mundo onde tantas vezes se
confunde verdade com representação,
fica esta reflexão sobre os papéis
que encarnamos,
e as máscaras que, mais cedo ou
mais tarde, caem.
Um poema sobre identidade, espelhos
e o silêncio entre atos.)
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