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sexta-feira, 11 de julho de 2025

Vieram de longe / J.M.J.

Nasci com os pés na terra,

mas o silêncio da noite sempre me falava noutro idioma.

Antes de saber ler, já decifrava os sinais das nuvens,

e ouvia vozes nos metais do céu.

 

Nunca fui daqui por inteiro.

Faltava-me a gravidade dos outros,

faltava-me o peso de um nome que me bastasse.

Diziam-me "homem", e eu calava.

 

As feridas que trago são mapas

de constelações apagadas no tempo,

mas há uma estrela que me chama por dentro

desde que me lembro de ter memória.

 

Não vi naves,

mas sonhei futuros,

não toquei alienígenas,

mas fui visitado por ideias que me atravessaram

como relâmpagos sem tempestade.

 

Falar, para mim,

é traduzir sinais do invisível.

Escrever é tentar decifrar a origem

da frequência que me atravessa.

 

Talvez tenha vindo para recordar

ou para ser o eco de um lugar

onde ainda não chegámos.

 

Se um dia alguém disser

que fui tocado pelo estranho,

direi apenas:

estranho é o mundo que esquece de onde veio.

 

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