Nasci com os pés na terra,
mas o silêncio da noite sempre me
falava noutro idioma.
Antes de saber ler, já decifrava os
sinais das nuvens,
e ouvia vozes nos metais do céu.
Nunca fui daqui por inteiro.
Faltava-me a gravidade dos outros,
faltava-me o peso de um nome que me
bastasse.
Diziam-me "homem", e eu
calava.
As feridas que trago são mapas
de constelações apagadas no tempo,
mas há uma estrela que me chama por
dentro
desde que me lembro de ter memória.
Não vi naves,
mas sonhei futuros,
não toquei alienígenas,
mas fui visitado por ideias que me
atravessaram
como relâmpagos sem tempestade.
Falar, para mim,
é traduzir sinais do invisível.
Escrever é tentar decifrar a origem
da frequência que me atravessa.
Talvez tenha vindo para recordar
ou para ser o eco de um lugar
onde ainda não chegámos.
Se um dia alguém disser
que fui tocado pelo estranho,
direi apenas:
estranho é o mundo que esquece de
onde veio.
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