Nascemos para ser felizes,
dizem,
como se o mundo fosse um bolo de
aniversário
e não um campo aberto
onde se tropeça na própria sombra.
Desejam-nos parabéns,
felicidades,
vida longa,
amor fiel,
dinheiro sempre a cair na conta
como folhas no outono.
Mas a quem morre
ninguém diz:
que tenhas uma boa travessia,
que encontres a tua verdade,
que possas enfim ser inteiro.
Fingimos que o tempo nos pertence
e que o corpo é um contrato de luz,
mas somos feitos de impulsos
antigos,
de garras invisíveis,
de um código onde habita o medo
de não sermos
o que sonhámos.
Talvez desejemos felicidade
como quem lança moedas a um poço,
sabendo, no fundo,
que a água não responde,
mas sonhando, sempre,
que haja eco.
E é nesse eco,
nesse ponto entre o real e o
delírio,
que construímos
a ideia de sermos humanos.
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