Seguidores

segunda-feira, 14 de julho de 2025

Se Eu Voltasse Agora (testemunho de um homem chamado Ninguém) / J.M.J.

Se Eu voltasse agora, não me reconheceríeis,
não traria túnica nem barba,

talvez andasse de calças rotas,

ou um lenço ao pescoço.
Não viria das nuvens,
mas sim do meio da multidão,
das filas da segurança social,
dos hospitais cheios,
dos campos de refugiados,
e do silêncio dos que já não creem em nada.

Não teria templo,
e falaria nas ruas, nas redes, nos cafés,
e faria perguntas, como outrora:

"Por que aceitais a mentira como pão?"

 

"Por que chamais normal ao sofrimento de tantos?"

 

"Por que afastastes o sagrado do vosso corpo e da vossa fome?"

 

 

Não teria seguidores, mas gente desperta ao meu lado,
não fundaria igrejas, nem partidos,
não citaria escrituras, mas abraçaria as crianças

e tocaria os doentes sem luvas,
Escutaria os loucos com paciência
e chamaria os justos de irmãos.

 

 

Diríeis que sou perigoso,
chamaríeis blasfémia ao amor sem fronteiras,
e como antes, talvez quisésseis calar-me.

 

Mas Eu queria apenas lembrar-vos disto:

 

que o vosso coração é mais real que o ouro,
que a justiça é mais sagrada que a tradição,
que Deus, esse nome cansado, não habita no céu,

mas em vós, quando amais sem medo.

Vim uma vez,
foi há dois mil anos,
mas venho sempre, em cada um que escolhe o bem sem recompensa.

 

 

Se me quiserdes ver, olhai onde dói,
se me quiserdes seguir, defendei os fracos,
e se me quiserdes ouvir, escutai o silêncio que vive dentro de vós.

 

Se Eu voltasse agora,
não tomaria partido,
nem bandeira, nem hino, nem fronteira.
Chamaria a guerra pelo nome antigo:
medo armado,
medo de perder,
medo de ceder
e medo de ver o outro como alguém.

Não me importaria se dissésseis que é por Deus.
Eu lembraria que Deus não manda matar,
nem castiga,
nem quer vitória,
quer vínculo.

Se Eu voltasse agora,
diria aos soldados:

"Voltai a casa. Ninguém vence quando o sangue é o preço da terra."

Diria aos líderes:

"O vosso poder é uma febre. Curai-vos."

Diria aos povos:

"Não sois inimigos, apenas órfãos da escuta."

E falaria aos que choram os mortos,
às mães com o colo vazio,
aos corpos entre escombros,
às almas sem pátria:

"O Reino de que falei não é um lugar,
é um estado de espírito que só nasce quando o ódio morre."

Se me pedísseis milagre,
talvez me sentasse no chão,
sem palavras,
e apenas chorasse convosco,

 

 

porque por vezes,
o gesto mais divino é não desviar o olhar.

 

Se Eu voltasse agora,
não diria que o dinheiro é o mal, pois não o é,
é símbolo, papel, número, promessa.
Mas diria:

"Cuidai para que ele não se transforme no deus que servis,
no tirano que define o vosso valor,
no vazio que nunca se preenche."

O dinheiro pode ser ponte,
se for usado para cuidar, para criar, para partilhar,
mas se se torna muralha,
afasta o irmão,
vende a alma por cifrões,
então é prisão.

Eu viria para lembrar-vos que o que enriquece não é o saldo,
mas o coração que se abre para o outro,
a mão que dá sem esperar,
o sorriso que não tem preço.

Não precisais de riquezas para ser reis,
mas de coragem para ser livres.

 

Amor não é poema nem promessa,
amor não é dom, nem dívida,
é fogo simples e desarmado,
a luz que queima a máscara,
a coragem de estar inteiro, vulnerável, sem medo.

Amar não é possuir,
nem esperar,
nem medir quem dá mais,
amar é reconhecer o outro como extensão de vós mesmos,
como reflexo e segredo.

Se Eu voltasse agora,
diria que o amor não é apenas entre amantes,
mas em cada gesto que abre espaço,
cada olhar que escuta,
cada mão que acolhe sem julgar.

 

Amar é revolução silenciosa,
que quebra muros,

que dissolve o ego,
que liberta.

Se quiserdes mudar o mundo, começai por amar,
não com palavras,
mas com presença.

 

Vejo muitos que procuram o sagrado,
mas confundem busca com fuga,
procuram luz, mas temem a sombra,
querem milagres, mas fogem do trabalho interior.

Se Eu voltasse agora,
diria que a verdadeira espiritualidade não está em rituais nem gurus,
mas no encontro honesto convosco mesmos,
na coragem de olhar para o que dói,
na aceitação do que sois; inteiros, imperfeitos, vivos.

Não vos percais em fórmulas prontas,
nem em caminhos que prometem atalhos.
O sagrado é caminho; lento, tortuoso, sem garantias,
é o pulso do vosso coração,
o silêncio entre os pensamentos,
a mão que se estende sem esperar recompensa.

E não vos esqueçais:
a espiritualidade não é torre acima dos outros,
mas ponte que nos une,
porque nenhum despertar é verdadeiro se não nos torna mais humanos,
mais compassivos, mais presentes.

 

A tecnologia é como o fogo antigo: poderosa, criadora, destruidora.
Não a condeno, nem a venero,
ela é ferramenta, nas mãos de quem a usa.

Se Eu voltasse agora,
diria que a tecnologia pode unir distâncias,
trazer conhecimento, acelerar a cura,
mas também pode isolar, aprisionar, criar muros invisíveis.

Não deixeis que a máquina vos roube o olhar,
nem que a tela seja a única janela do vosso mundo,
recordai sim, que o toque humano, a conversa frente a frente,
o silêncio partilhado, ainda são milagres.

A verdadeira conexão não se mede em gigabytes,
mas na empatia que pulsa entre corpos e almas.

Se quereis usar a tecnologia para servir a vida,
usai-a para criar, para cuidar, para libertar,
jamais para dividir, manipular ou escravizar.

 

A justiça que muitos buscam é feita de regras, tribunais, sentenças,
mas a verdadeira justiça nasce no coração,
na escuta profunda do outro,
no equilíbrio entre a verdade e a compaixão.

Se Eu voltasse agora,
diria que punir não é o mesmo que curar,
e que o erro é humano, e o perdão, revolucionário,
que a justiça deve ser ponte e não muro,
diálogo e não silêncio.

Não espereis por justiça que vos vingue e liberte,
sem antes olhar para dentro,
sem antes acolher a vossa própria sombra,
porque a verdadeira liberdade começa onde termina a vingança.

A justiça que transforma é a que repara,
que reconhece a dor,
que constrói caminhos novos.
Não vos esqueçais:
a justiça sem amor é apenas poder disfarçado.

 

O corpo não é prisão, nem templo, nem objeto,
é o primeiro altar que habitamos,
o lugar onde a alma e a terra se encontram.

Se Eu voltasse agora,
diria que cuidar do corpo é cuidar da vida,
mas não apenas na aparência,
senão na escuta profunda de seus sinais, dores e desejos.

O corpo fala sem palavras,
carrega histórias, cicatrizes, alegrias.
Não o desprezeis, não o tortureis, não o negueis,
porque nele reside a matéria do milagre:
a presença, o sentir, o viver.

Liberdade não é ausência de amarras,

nem licença para tudo;

liberdade é responsabilidade,

é o acto de escolher com consciência,

é caminhar sem medo, mesmo com cadeias invisíveis.

 

Se Eu voltasse agora,

diria que a verdadeira liberdade nasce no interior,

quando deixais de fugir do que sois,

quando aceitais os vossos limites e descobris a vossa força.

 

Não espereis que o mundo vos dê liberdade,

tomai-a, mesmo que doa,

mesmo que o medo vos acompanhe,

pois só assim o espírito pode voar,

e o coração pode ser inteiro.

 

A verdade não é um punhal afiado,

nem um martelo que destrói,

é uma luz suave que clareia,

um caminho que se revela passo a passo.

 

Se Eu voltasse agora,

diria que a verdade não é um dogma,

nem uma palavra final,

é a coragem de serdes autênticos,

de olhardes para dentro e para fora,

sem máscaras, sem fugas.

 

Nem sempre é confortável,

mas é libertadora,

porque viver na verdade é viver em harmonia

com o que realmente pulsa em vós.

 

 

Olhai para a história que se escreveu em meu nome,

não a minha verdade,

mas o que os homens quiseram dela para manter poder,

para dominar, para dividir.

 

Eu vim falar de amor, de igualdade, de liberdade,

mas a minha voz foi calada por quem queria tronos e templos.

Transformaram-me em símbolo de submissão,

em pretexto para guerras e injustiças,

em bandeira para oprimir e excluir.

 

A mensagem que era de luz virou sombra,

o abraço que queria unir foi usado para separar,

o amor virou dogma fechado,

a justiça virou punição cruel,

a fé virou medo,

e a esperança foi vendida por promessas vazias.

 

Se eu voltasse agora, diria:

não aceiteis que usem o meu nome para vos prender,

para vos dividir, para vos calar,

Resgatai sim, a essência; a coragem, a compaixão, a luta por um mundo justo.

 

A verdadeira revolução começa em vós,

não em templos nem em coroa,

e a vossa liberdade não pode ser negociada nem roubada.

 

Não deixeis que apaguem o fogo que arde nos vossos corações,

porque essa chama é a minha mensagem viva,

a única que ninguém pode destruir.

 

 

Nasci numa terra que é mãe e chama,

onde o solo é sagrado porque guarda histórias milenares,

onde caminhei entre oliveiras e pedras antigas,

onde o vento conta segredos de paz e de luta.

 

Mas hoje, vejo aquela terra sangrar,

não pelo destino inevitável,

mas pelo que os homens nela fizeram,

muros erguidos para separar irmãos,

armas apontadas contra irmãos,

medo que destrói o que poderia unir.

 

Aqueles campos que um dia acolheram as minhas palavras,

hoje são palco de dor, de medo, de sangue

e a guerra não é só entre povos,

é a guerra contra a esperança, contra o encontro,

contra a possibilidade de um futuro onde todos possam viver.

 

Se Eu voltasse agora,

diria a vós, que habitais aquela terra,

que a paz não é ausência de conflito,

mas o acto corajoso de reconhecer o outro,

de desarmar o coração antes das mãos,

de plantar novamente a semente da humanidade.

 

Este chão é sagrado porque carrega a vida,

não porque pertence a um ou a outro.

Quem destrói a terra destrói-se a si mesmo,

e não há vitória no sofrimento do irmão.

 

Voltai a olhar nos olhos do outro,

não com ódio, nem com medo,

mas com a vontade profunda de curar,

de construir pontes,

de renovar o pacto antigo de amor.

 

Porque a verdadeira herança que deixei

não é um território, nem uma religião,

é a memória do que é ser humano,

é a chama que convida todos a caminhar juntos.

 

 

O futuro que vos espera não está apenas escrito nas estrelas,

mas nas mãos que agora escolhem construir ou destruir.

 

Vejo uma encruzilhada diante de vós:

um caminho que leva à ruína, à divisão, ao vazio,

e outro que se abre para a cura, para a unidade, para a vida.

 

Se persistirdes na ganância, na violência, na indiferença,

o mundo que conhecestes será consumido pelo fogo da vossa própria sombra,

e o ar tornar-se-á pesado, a terra árida, os rios secos,

e os corações gelados, incapazes de amar ou sonhar.

 

Mas se despertardes para a consciência profunda,

se cada um de vós assumir a responsabilidade pelo todo,

então um novo tempo poderá nascer,

onde a justiça não seja punição,

onde a liberdade não seja caos,

onde o amor seja a força que guia as vossas ações.

 

Não espereis por salvadores exteriores,

porque a salvação mora no olhar do irmão,

na mão que ajuda, no gesto que une.

 

Eu voltei para vos lembrar que a mudança começa agora,

em cada escolha pequena, em cada gesto de bondade,

na coragem de enfrentar as trevas que habitam em vós,

para que possais brilhar como luz no mundo.

 

O amanhã está nas vossas mãos,

e a profecia verdadeira é esta:

o que semeardes hoje, colhereis no futuro.

 

Que escolhais com sabedoria,

e que nunca esqueçais que, no fim,

somos todos um só coração a bater pela vida.

 

 

Antes de partir, deixo-vos um pedido,

não para vos salvar de um juízo,

nem para vos arrebatar para um céu longínquo.

 

Vim para lembrar-vos

que o Divino não habita apenas nas alturas,

mas vibra no voo de um pássaro,

na dança silenciosa das árvores,

na respiração da terra molhada,

no olhar de cada ser que caminha ao vosso lado.

 

Deus não é um trono distante,

mas pulsa na seiva e na lágrima,

no vento e na ternura,

no silêncio que antecede o gesto bom.

 

Por isso vos peço:

olhai para a Terra como quem olha o próprio corpo,

tocai nela com respeito,

cuidai dela como quem cuida de uma mãe doente

ou de uma criança que ainda sonha.

 

Não há céu sem terra,

nem paraíso que floresça sobre a destruição.

 

Enquanto permanecerdes nesta dimensão,

fazei do mundo um lugar onde a vida possa respirar,

onde todos os seres, visíveis ou não,

tenham um lugar à mesa do existir.

 

Cada semente é um altar.

cada rio, uma oração em movimento

e cada animal, uma centelha da criação.

 

O meu Reino não se impõe,

desperta.

 

E o milagre que vos deixo é este:

podeis escolher.

Hoje, aqui, nesta Terra,

fazei do vosso amor um ato,

e que o Céu aconteça em cada gesto que cura.

 

Porque onde houver cuidado,

há Deus

e onde houver verdade,

há caminho.


Sem comentários:

Enviar um comentário