Eu era mulher em uma corte onde
os olhos dos reis se perdiam
nos próprios desejos.
Eu, Betsabé,
não fui chamada para a glória,
mas para o peso de uma paixão,
uma escolha entre o amor e o
destino,
entre o que era justo e o que o
coração queria.
Vi o olhar do rei sobre mim,
não com a pureza de quem busca o
bem,
mas com a fúria do poder que tenta
moldar
a vida dos outros.
Eu, mulher de Urias,
fui tocada por uma tempestade
que não me perguntou se eu estava
preparada.
Naquele encontro, não havia
escolha,
nem entre o amor e a vergonha,
nem entre o homem e o rei,
mas o meu corpo, o meu espírito,
se viram tomados pela força do
desejo
e pela promessa de uma vida mais
segura.
Mas que segurança havia em um reino
construído
sobre mentiras e sangue derramado?
Eu vi a morte,
não só de meu marido,
mas de algo mais profundo:
uma inocência perdida,
uma verdade calada sob a areia.
No entanto, a minha história não se
acaba, no erro.
A minha dor me fez mãe de um rei,
e da sua linhagem brotou um futuro
que, sem mim, jamais teria sido.
Eu, Betsabé, sou a memória
da redenção,
do pecado que traz vida
e da mulher que, na queda,
se ergue com a sabedoria
de quem viu o abismo
e o enfrentou.
Sem comentários:
Enviar um comentário