O Homem não foi criado à imagem de Deus.
Foi Deus que nasceu da carne viva
dos desejos do homem.
No íntimo de cada ser humano pulsa
a sede de soberania:
a ânsia de mandar, de criar leis,
de dobrar o mundo à sua vontade.
Uns sublima-lo na criação do belo;
outros, na imposição da força.
A desigualdade humana nasce desta
batalha surda:
os que ascendem moldam a justiça
como se molda o ferro
ao calor da ambição e ao frio do
medo.
Deus, tal como descrito nos livros
sagrados, é demasiado humano:
vê, ouve, fala, sente inveja,
cólera, vingança,
é instintivo, impetuoso, parcial,
mais próximo do instinto animal do
que da pureza divina.
Não é o Deus do universo, mas o
Deus de um povo,
um chefe de tribo armado com
promessas e punições.
Tal como um ditador terreno, exige
adoração cega,
impõe castigos brutais, declara
guerras santas, destrói cidades por capricho.
O trono celestial é apenas o
espelho ampliado dos tronos terrenos.
Todo tirano é a sombra viva deste
Deus
e toda fraqueza humana é o preço
dessa invenção.
Enquanto o homem desejar ser Deus,
haverá senhores e escravos,
leis que oprimem, fé que subjuga,
e a eterna ilusão de que o poder é
sagrado.
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