Não fui chamada à praça,
nem tive voto no julgamento,
mas o sonho chegou-me
como um sussurro rasgado,
como presságio a arder nos ossos.
Vi o rosto do homem inocente,
envolto em dor que não era dele,
e soube,
soube como só as mulheres sabem
quando a alma toca a verdade.
“Não te envolvas”, roguei ao meu
marido,
Pilatos, o que lava as mãos.
“Afasta-te desse justo.”
Mas as palavras das mulheres
são como poeira ao vento
no mundo dos tribunais dos homens.
Fiquei à margem,
no interior onde se guardam as
vozes
que não contam para a história,
mas foi em mim que o pressentimento
ferveu,
foi em mim que a verdade gritou,
e não na pedra fria do julgamento.
Fui Cláudia,
a que viu antes da queda,
a que quis impedir,
a que falou e não foi ouvida.
Na sombra do pretório,
não deixei que a consciência
dormisse em paz.
E mesmo que os livros me releguem
a nota de rodapé,
saberás, se escutares bem,
que às vezes a verdade
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