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segunda-feira, 14 de julho de 2025

Cláudia, a que sonhou com a verdade / J.M.J.

Não fui chamada à praça,

nem tive voto no julgamento,

mas o sonho chegou-me

como um sussurro rasgado,

como presságio a arder nos ossos.

 

Vi o rosto do homem inocente,

envolto em dor que não era dele,

e soube,

soube como só as mulheres sabem

quando a alma toca a verdade.

 

“Não te envolvas”, roguei ao meu marido,

Pilatos, o que lava as mãos.

“Afasta-te desse justo.”

Mas as palavras das mulheres

são como poeira ao vento

no mundo dos tribunais dos homens.

 

Fiquei à margem,

no interior onde se guardam as vozes

que não contam para a história,

mas foi em mim que o pressentimento ferveu,

foi em mim que a verdade gritou,

e não na pedra fria do julgamento.

 

Fui Cláudia,

a que viu antes da queda,

a que quis impedir,

a que falou e não foi ouvida.

Na sombra do pretório,

não deixei que a consciência

dormisse em paz.

 

E mesmo que os livros me releguem

a nota de rodapé,

saberás, se escutares bem,

que às vezes a verdade

fala por bocas que ninguém quer ouvir.

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