Ó Deus,
Tu que disseste:
"ela é escolhida",
mas era uma criança.
Tu que vieste em sonhos e ditaste a
sentença:
um ventre que ainda não sangrava
será o templo da tua glória.
Tu não pediste, decidiste,
e ela disse sim, porque não sabia
dizer não.
E chamaram-lhe santa
e calaram-na em todas as línguas.
Tu, que inspiraste profetas
a deitar-se com esposas que
brincavam com bonecas,
tu que deixaste que a religião
virasse contrato,
e o corpo da menina, moeda.
Tu que vês as lágrimas das mães
que enterram filhas consumidas em
camas de velhos santos,
e nada dizes.
Porque sempre escolheste os homens,
e os fizeste senhores do tempo,
da carne,
do texto.
Mas hoje,
no meio do deserto da tua palavra,
ergue-se um grito:
não em louvor,
mas em protesto.
Porque se fores Deus, sê justiça,
se fores amor, sê escândalo,
se fores silêncio, escuta.
E se fores só o nome que inventámos
para o medo,
então morre de uma vez,
e deixa as meninas viver.
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