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segunda-feira, 14 de julho de 2025

Deus à Imagem do Homem: o Espelho da Ambição Humana / J.M.J.

Desde o início da humanidade, o homem carrega em si uma tensão profunda: o desejo de ser mais, de alcançar o absoluto, de tornar-se Deus. E, ao mesmo tempo, uma necessidade de se refugiar num Deus que o proteja do desconhecido, do medo, da morte.

 

Esta dualidade, querer ser Deus e precisar de Deus, fundamenta a história espiritual da humanidade.

 

A religião judaico-cristã ensina que o homem foi criado "à imagem e semelhança de Deus". Porém, ao observarmos com mais cuidado, percebemos que Deus, como é descrito na Bíblia, também foi moldado à imagem e semelhança dos homens. Deus é humano em sua essência: vê, ouve, fala, sente ciúme, ira, amor, arrependimento. Ele tem preferências, faz alianças e destrói aqueles que não as cumprem. Deus, tal como o homem, busca reconhecimento, poder e obediência.

 

Deus não é o símbolo da perfeição abstrata; é um ser que, tal como o homem, possui emoções intensas e instintos de posse, uma vontade de domínio e um desejo insaciável de glória. Sua fúria diante da traição é tão humana quanto a de qualquer tirano.

 

Além disso, Deus, no Antigo Testamento, não é um Deus universal. Ele é o Deus de um povo específico, o Deus de Israel, que protege os seus escolhidos e aniquila os seus inimigos. Promete bênçãos e vitórias àqueles que lhe são fiéis e ameaça com castigos os que se afastam da sua vontade.

 

Foi com a expansão do cristianismo, muito após Jesus, que este Deus de um povo se tornou proclamado como Deus de todos os homens. Antes disso, era o Deus de uma nação, de uma identidade.

 

A ambição de ser Deus, portanto, está diretamente ligada à forma como o homem concebeu o próprio Deus: um ser que governa, julga, manda, protege e castiga.

 

Não é por acaso que aqueles que alcançam o poder absoluto sobre outros repetem, em escala humana, o comportamento que a Bíblia atribui ao seu Deus: dominam, exigem obediência, prometem proteção aos submissos e condenam os rebeldes.

 

E as religiões, como instituições de poder, tornam-se ferramentas que perpetuam este ciclo. Elas utilizam o medo do castigo e a promessa de salvação para manter os fracos sob controle, transformando a fé em um instrumento de subjugação. As leis, tal como os dogmas religiosos, são justificadas como necessários para a ordem e para o bem de todos. Mas, na realidade, servem para garantir que a ordem do poder seja mantida.

 

O trono de Deus e o trono dos homens são, assim, reflexos um do outro. Ambos buscam submeter, proteger, controlar.

 

Quando olhamos atentamente, não vemos apenas que o homem é "imagem" de Deus, mas que Deus é também o espelho da alma humana, dos seus desejos de transcendência e das suas misérias, da sua ânsia de liberdade e da sua tentação pelo poder.

 

A história da humanidade é, portanto, uma história de luta entre a busca pela liberdade e o desejo pelo poder, entre a necessidade de proteção e o medo de ser esmagado. No centro de tudo isso, está a figura de um Deus tão humano quanto os homens que o criaram, e cuja presença molda as dinâmicas de poder e subordinação desde o princípio dos tempos.

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