Fui dada, como quem dá o próprio corpo
a um destino que não pedi,
fui semente de um erro
plantada em solo estranho,
e a promessa foi feita a outros,
mas eu existo,
no silêncio do vento que corta o
deserto.
Fui mulher de ninguém,
mãe de quem não era minha escolha,
fui a que ficou para trás,
perdida entre as dunas da
indiferença.
E o sol queimava,
e o ventre inchava,
mas não fui escutada.
Fui só a sombra da concubina,
a que ninguém vê.
Mas Deus viu,
Deus, que não esquece os exilados,
que não abandona a quem chora
Ele viu, e falou,
Ele disse meu nome,
como quem diz: "tu também
és".
E naquele deserto,
sem mais nada além de água e fome,
encontrei a fonte.
Não fui salva por ninguém,
salvei-me.
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