Fui chamada de tudo,
pecadora, prostituta,
possuída, perdoada.
Mas nunca disseram
que fui eu
a primeira a ficar
quando todos fugiram.
Enquanto os homens negavam,
eu estava lá,
enquanto os soldados cuspiram,
eu estava lá,
enquanto o céu se rasgava,
eu via.
E depois,
quando a pedra foi removida,
vi o vazio
antes de ver a luz.
E fui eu,
não Pedro, não João,
quem primeiro ouviu o nome
dito outra vez com ternura.
Maria,
foi o que ele disse,
e naquele som
coube toda a verdade.
Mas apagaram-me da história
porque uma mulher que vê
é perigosa,
uma mulher que ama
sem pedir licença
é uma ameaça.
Chamaram-me sombra,
porque fui farol,
mas eu sei o que vi
e continuo a contar
a quem tem ouvidos
fora do templo.
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