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segunda-feira, 14 de julho de 2025

Maria Madalena, a que permaneceu / J.M.J.

Fui chamada de tudo,

pecadora, prostituta,

possuída, perdoada.

 

Mas nunca disseram

que fui eu

a primeira a ficar

quando todos fugiram.

 

Enquanto os homens negavam,

eu estava lá,

enquanto os soldados cuspiram,

eu estava lá,

enquanto o céu se rasgava,

eu via.

 

E depois,

quando a pedra foi removida,

vi o vazio

antes de ver a luz.

E fui eu,

não Pedro, não João,

quem primeiro ouviu o nome

dito outra vez com ternura.

 

Maria,

foi o que ele disse,

e naquele som

coube toda a verdade.

 

Mas apagaram-me da história

porque uma mulher que vê

é perigosa,

uma mulher que ama

sem pedir licença

é uma ameaça.

 

Chamaram-me sombra,

porque fui farol,

mas eu sei o que vi

e continuo a contar

a quem tem ouvidos

fora do templo.

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