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terça-feira, 8 de julho de 2025

A máquina do fácil /J.M.J.

São palavras baratas

vendidas ao quilo nas praças da pressa,

e há quem as coma como pão.

 

Repetem-se slogans como mantras de feira,

e o povo, exausto de pensar, 

fecha os olhos

e diz que sim.

 

Não querem mais dúvidas,

querem o fácil,

o claro,

o que grite mais alto.

A verdade, que sussurra,

não tem microfone nem palanque.

 

Há vozes que prometem

limpar tudo com raiva,

fazer nascer ordem da violência,

decência da crueldade,

identidade do medo.

 

E os olhos cansados não distinguem

o homem de Estado

do vendedor de promessas.

Chamam coragem ao grito,

força à arrogância,

justiça ao castigo.

 

O pensamento

torna-se artigo de luxo.

 

Quem duvida,

é traidor,

quem pergunta,

é brando.

quem resiste,

é censurado pelos que sonham

com chefes e hinos e marchas.

 

Não há crítica,

há claque.

 

Não há cuidado,

há raiva embalada.

 

E os homens de bem

são chamados fracos

porque não berram,

não insultam,

não dividem.

 

Mas o tempo há-de chegar

em que o silêncio dos lúcidos

será mais ruidoso que a gritaria

e então, talvez,

renasça o critério

como pão amassado com tempo.

 

 

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