Um dia, o mármore estala,
não pelo grito dos povos,
mas pelo silêncio das muralhas.
O homem que se fez torre
começa a escutar passos que não vêm de fora;
são ecos dentro do seu próprio nome,
partido em mil fragmentos de medo.
Nada é eterno,
nem o ferro,
nem a sombra.
O ouro empalidece
quando a luz chega de dentro
e nenhuma espada o pode defender.
Há um momento,
impossível de prever,
mas certo como o cair da última folha,
em que a máscara já não segura o rosto,
e o mundo inteiro sabe
que o império caiu
antes de ruir.
Esse momento está a chegar,
já o vento o pronuncia
em línguas que ninguém ensinou,
mas todos compreendem no fundo do peito.
E quando vier,
não será com trovões,
mas com uma fissura discreta,
no sítio onde ele jamais olhou.
Não se verá sangue,
mas ausência.
Não se ouvirá grito,
mas queda.
E o trono que parecia inquebrável
ficará vazio
e ninguém o quererá ocupar.
(Este texto nasceu da reflexão sobre Vladimir Putin, não sobre o homem em si, mas sobre o símbolo que encarna: o poder endurecido, a
recusa da mudança, o medo da escuta. O poema não é uma condenação, mas um
presságio daquilo que resiste ao inevitável: a queda do velho mundo.)
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