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quarta-feira, 9 de julho de 2025

O Eco do Trono Vazio / J.M.J.

Um dia, o mármore estala,

não pelo grito dos povos,

mas pelo silêncio das muralhas.

 

O homem que se fez torre

começa a escutar passos que não vêm de fora;

são ecos dentro do seu próprio nome,

partido em mil fragmentos de medo.

 

Nada é eterno,

nem o ferro,

nem a sombra.

 

O ouro empalidece

quando a luz chega de dentro

e nenhuma espada o pode defender.

 

Há um momento,

impossível de prever,

mas certo como o cair da última folha,

em que a máscara já não segura o rosto,

e o mundo inteiro sabe

que o império caiu

antes de ruir.

 

Esse momento está a chegar,

já o vento o pronuncia

em línguas que ninguém ensinou,

mas todos compreendem no fundo do peito.

 

E quando vier,

não será com trovões,

mas com uma fissura discreta,

no sítio onde ele jamais olhou.

 

Não se verá sangue,

mas ausência.

 

Não se ouvirá grito,

mas queda.

 

E o trono que parecia inquebrável

ficará vazio

e ninguém o quererá ocupar.

 

 

(Este texto nasceu da reflexão sobre Vladimir Putin, não sobre o homem em si, mas sobre o símbolo que encarna: o poder endurecido, a recusa da mudança, o medo da escuta. O poema não é uma condenação, mas um presságio daquilo que resiste ao inevitável: a queda do velho mundo.)

 

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