Sim, agredir um velho é cobardia
e o agressor que responda, sem desculpa
e que a justiça actue, não a turba,
que a farda cumpra o que a alma lhe devia.
Mas depois...
vieram os cães do medo,
mascarados de pátria, de honra, de povo
com bandeiras como mordaças
e cruzes que cheiram a enxofre de novo.
Não vieram pela justiça, vieram pela sede,
não vieram pelo idoso, vieram pelo medo,
vieram atiçados por mentiras editadas,
por vídeos que cortam a carne pela metade.
Vieram caçar homens,
não culpados, não criminosos,
mas imigrantes,
esses que colhem o tomate,
que suam no silêncio das estufas,
e mantêm à tona a economia
de um país que os cospe quando o sol se põe.
Vieram por raiva,
não da boa, que liberta,
mas da raiva torpe, instrumental
das redes sociais que alimentam bestas
dos partidos que abanam fósforos
em campos secos de moral.
E onde estava a Europa?
a civilização, os direitos, a história?
Calada ou cúmplice ou “equilibrada”,
como se o centro estivesse no meio da fogueira.
Quem defende a justiça
não forma milícias,
quem ama a terra
não caça quem a cultiva,
quem tem alma
não parte a de outro à pancada.
Não,
não é justiça,
é racismo,
é barbárie,
é o velho monstro a acordar
com novas palavras
e o mesmo cheiro a gás.
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