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terça-feira, 15 de julho de 2025

Maria, que Escutou o Invisível / J.M.J.

Não gritou,

não ergueu espada,

não escreveu tratados,

apenas escutou

o que só se ouve

quando o mundo se cala.

 

Ele disse-lhe segredos

não porque fosse mulher,

nem apesar disso,

mas porque o vazio nela

não resistia ao Amor.

 

Ela viu o Mestre partir

sem partir dela,

fechou os olhos

e atravessou os véus

que a carne impõe à alma.

 

As esferas da matéria

tentaram detê-la,

nomeando culpas,

vendendo medo,

sussurrando:

“Não és digna.”

Mas ela conhecia o caminho:

não o da fé cega,

mas da visão desperta.

 

“Não é fora”, disse.

“Nem é por obedecer.

É por recordar

quem és antes do tempo.”

 

E quando Pedro duvidou,

ela não debateu,

pois o Amor não precisa vencer,

basta que seja.

 

Por entre os escombros da doutrina,

permanece o fio,

fino, quase invisível,

que une o coração

ao que está para lá do nome “Deus”.

 

Maria segurou esse fio,

e é por isso

que ainda hoje

nos podemos erguer

sem medo.

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