Não gritou,
não ergueu espada,
não escreveu tratados,
apenas escutou
o que só se ouve
quando o mundo se cala.
Ele disse-lhe segredos
não porque fosse mulher,
nem apesar disso,
mas porque o vazio nela
não resistia ao Amor.
Ela viu o Mestre partir
sem partir dela,
fechou os olhos
e atravessou os véus
que a carne impõe à alma.
As esferas da matéria
tentaram detê-la,
nomeando culpas,
vendendo medo,
sussurrando:
“Não és digna.”
Mas ela conhecia o caminho:
não o da fé cega,
mas da visão desperta.
“Não é fora”, disse.
“Nem é por obedecer.
É por recordar
quem és antes do tempo.”
E quando Pedro duvidou,
ela não debateu,
pois o Amor não precisa vencer,
basta que seja.
Por entre os escombros da doutrina,
permanece o fio,
fino, quase invisível,
que une o coração
ao que está para lá do nome “Deus”.
Maria segurou esse fio,
e é por isso
que ainda hoje
nos podemos erguer
sem medo.
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