Sou feito de ar e de espanto,
de carne que treme
e silêncio que pensa devagar.
Não sou dono do que me move,
o coração pulsa sem que eu mande,
os pulmões respiram
como quem reza em surdina,
e o corpo age, mesmo cansado,
como um servo fiel da vida.
Inteligência não é cálculo,
nem resposta rápida,
é um dom que habita o musgo,
o voo das aves,
a espera da semente na terra.
A natureza sabe,
não pensa,
mas sabe.
Eu, humano, duvido,
e na dúvida, falo,
e no verbo, crio mundos
que me confundem.
Preciso de pão,
de abrigo,
de um olhar que me reconheça,
preciso do outro
para ser eu;
sou dependente,
sou inacabado,
sou procura.
A consciência não me veio com o nascimento,
ela cresceu nos tombos,
nas perdas,
nas perguntas que ninguém respondeu.
Vivo entre o grito do desejo
e a voz do dever,
o drama entre o querer tudo
e o saber que não posso.
Id e superego,
num duelo sem fim
entre o fogo e a norma.
E no meio,
um sopro que pede sentido,
uma liberdade que não se mede
em leis ou slogans,
mas na forma como toco o mundo
sem o ferir.
Tudo é cultura,
tudo é mutável,
Mas há algo,
algo que permanece
quando o ruído cessa.
E é nesse espaço
que talvez habite a verdadeira inteligência:
aquela que sabe calar,
amar,
e continuar a respirar,
mesmo com o coração aberto.
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