Há em cada ordem um fio,
invisível, mas tenso,
que atravessa a pele e os olhos,
e desce, em espiral,
até à sala escura do instinto.
Nem sempre é ódio,
nem sempre é desejo,
às vezes é só ausência,
um silêncio obediente
que assina com as mãos caladas
o contrato com o abismo.
Não é o grito que fere,
é o gesto sem alma,
a máquina ligada
por dentro da carne.
A voz que manda
pode vir de fora,
mas o que a sustém
é o medo de pensar,
é o conforto de não ser.
E assim, dia após dia,
em casas, gabinetes, ruas,
há corpos que não matam,
mas matam.
Só o olhar que recusa,
só a palavra que resiste,
desfaz a engrenagem,
só quem escuta dentro
sabe parar a mão.
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