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terça-feira, 15 de julho de 2025

A voz que manda / J.M.J.

Há em cada ordem um fio,

invisível, mas tenso,

que atravessa a pele e os olhos,

e desce, em espiral,

até à sala escura do instinto.

 

Nem sempre é ódio,

nem sempre é desejo,

às vezes é só ausência,

um silêncio obediente

que assina com as mãos caladas

o contrato com o abismo.

 

Não é o grito que fere,

é o gesto sem alma,

a máquina ligada

por dentro da carne.

 

A voz que manda

pode vir de fora,

mas o que a sustém

é o medo de pensar,

é o conforto de não ser.

 

E assim, dia após dia,

em casas, gabinetes, ruas,

há corpos que não matam,

mas matam.

 

Só o olhar que recusa,

só a palavra que resiste,

desfaz a engrenagem,

só quem escuta dentro

sabe parar a mão.

 

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