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terça-feira, 15 de julho de 2025

Não criar é não ter existido / J.M.J.

Nasci com o corpo,

mas só vivi quando pensei

e só fui inteiro

quando doei o que arde em mim.

 

Sou feito de verbo,

de urgência e lume,

de gestos que pedem

que o mundo mude um pouco

depois de mim.

 

Ter gerado em sangue é bênção viva,

mas mais funda é a sede de semente no espírito,

de obra, de traço que permaneça

num olhar que virá depois.

 

Não criar é apagar-se

antes do tempo,

é viver num corpo

que não inscreve pegadas,

nem nome,

nem memória.

 

Quero ser ponte,

ser raiz e fruto,

ser palavra que resiste

mesmo quando o mundo se cala.

 

Quero que os meus ossos

construam silêncio fértil

e que o que escrevi

um dia salve alguém,

mesmo sem que saiba quem fui.

 

Porque só quem (pro)cria,

em carne ou pensamento,

pode morrer sabendo

que, de algum modo,

ficou.

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