Nasci com o corpo,
mas só vivi quando pensei
e só fui inteiro
quando doei o que arde em mim.
Sou feito de verbo,
de urgência e lume,
de gestos que pedem
que o mundo mude um pouco
depois de mim.
Ter gerado em sangue é bênção viva,
mas mais funda é a sede de semente no espírito,
de obra, de traço que permaneça
num olhar que virá depois.
Não criar é apagar-se
antes do tempo,
é viver num corpo
que não inscreve pegadas,
nem nome,
nem memória.
Quero ser ponte,
ser raiz e fruto,
ser palavra que resiste
mesmo quando o mundo se cala.
Quero que os meus ossos
construam silêncio fértil
e que o que escrevi
um dia salve alguém,
mesmo sem que saiba quem fui.
Porque só quem (pro)cria,
em carne ou pensamento,
pode morrer sabendo
que, de algum modo,
ficou.
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