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terça-feira, 15 de julho de 2025

Arquitetura da obediência / J.M.J.

As cidades erguem-se

sobre pactos invisíveis,

ninguém os lê,

mas todos os seguem

como quem atravessa o trânsito

sem olhar o céu.

 

Há quem segure a pasta,

quem feche as portas,

quem carimbe o silêncio

em papéis que matam devagar.

 

Não há gritos,

há normas,

não há sangue,

há relatórios.

 

A maldade veste fato,

assina em nome de “função”,

age dentro da lei

e dorme tranquila.

 

O poder, quando nasce,

não precisa de monstros,

basta-lhe um exército

de pessoas decentes

que não questionam nada.

 

E assim se constrói

a arquitetura da obediência:

com escadas sem saída

e espelhos onde ninguém se vê.

 

Mas um gesto basta,

um só,

para quebrar a linha

e abrir fendas no betão

por onde possa entrar o humano.

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