As cidades erguem-se
sobre pactos invisíveis,
ninguém os lê,
mas todos os seguem
como quem atravessa o trânsito
sem olhar o céu.
Há quem segure a pasta,
quem feche as portas,
quem carimbe o silêncio
em papéis que matam devagar.
Não há gritos,
há normas,
não há sangue,
há relatórios.
A maldade veste fato,
assina em nome de “função”,
age dentro da lei
e dorme tranquila.
O poder, quando nasce,
não precisa de monstros,
basta-lhe um exército
de pessoas decentes
que não questionam nada.
E assim se constrói
a arquitetura da obediência:
com escadas sem saída
e espelhos onde ninguém se vê.
Mas um gesto basta,
um só,
para quebrar a linha
e abrir fendas no betão
por onde possa entrar o humano.
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