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terça-feira, 15 de julho de 2025

Aquele que não foge / J.M.J.

Não é da morte que mais se teme,

é da vida quando pesa como um século,

quando o corpo arrasta a alma

e a alma esquece o caminho de volta.

 

É do dia que não acaba,

da espera sem nome,

da sobrevivência sem dignidade,

da mente que se quebra

com o estalido do silêncio.

 

É preciso uma inteligência

que não se exiba,

mas que saiba calar

quando o mundo ruge,

que saiba não fugir,

mesmo quando tudo em volta

implora evasão.

 

Superar não é vencer,

é olhar o medo nos olhos

e ainda assim lavar o rosto,

dar de comer a si mesmo,

respirar com quem sofre,

sem se deixar afundar

nas correntes do mundo.

 

Haverá quem consiga

desligar-se de tudo,

não por frieza,

mas por ter queimado

todos os mapas

e ainda assim ter ficado de pé.

 

Aceitar tudo,

não possuir nada,

sentir tudo

e não se apegar a coisa alguma.

 

E ainda assim amar,

sem nome,

sem posse,

sem necessidade.

 

Esse é o alto cume,

onde o vento não fere

e a guerra não alcança.

 

Mas poucos chegam lá,

e quem chega

já não precisa dizer nada.

 

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