Não é da morte que mais se teme,
é da vida quando pesa como um século,
quando o corpo arrasta a alma
e a alma esquece o caminho de volta.
É do dia que não acaba,
da espera sem nome,
da sobrevivência sem dignidade,
da mente que se quebra
com o estalido do silêncio.
É preciso uma inteligência
que não se exiba,
mas que saiba calar
quando o mundo ruge,
que saiba não fugir,
mesmo quando tudo em volta
implora evasão.
Superar não é vencer,
é olhar o medo nos olhos
e ainda assim lavar o rosto,
dar de comer a si mesmo,
respirar com quem sofre,
sem se deixar afundar
nas correntes do mundo.
Haverá quem consiga
desligar-se de tudo,
não por frieza,
mas por ter queimado
todos os mapas
e ainda assim ter ficado de pé.
Aceitar tudo,
não possuir nada,
sentir tudo
e não se apegar a coisa alguma.
E ainda assim amar,
sem nome,
sem posse,
sem necessidade.
Esse é o alto cume,
onde o vento não fere
e a guerra não alcança.
Mas poucos chegam lá,
e quem chega
já não precisa dizer nada.
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