Esperou sentada no degrau,
com o filho a dormir-lhe no colo,
a carta que nunca chegou
vinha de mãos que não sabiam o seu nome.
Deixou passar o prazo,
não por desleixo,
mas porque há dias em que escolher
entre comparecer ou cuidar
é crime de maternidade.
Numa casa sem chão
vive um velho com olhos de pedra
e um neto de olhos maiores que o prato.
Esperam há seis invernos
um tecto prometido por papéis com carimbo.
As paredes ainda em obra
receberam primeiro o frio
do que os corpos que vinham com frio dentro.
O contrato dizia habitar,
mas habitava-se o abandono.
Há fossas onde deviam correr águas claras,
furos de desespero
onde o Estado não escava,
porque ali
não mora ninguém que vote.
Esperar é o verbo mais conjugado
na boca de quem tem fome.
Esperar sem urgência
é só uma forma lenta de morrer.
E dizem que há sistema,
mas não vê,
e dizem que há apoio,
mas não toca,
e dizem que há justiça,
mas não chega.
Só chega o eco das promessas
e o silêncio bem administrado,
onde a pobreza
não desencadeia alarme,
só rotina.
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