No ventre de uma flor
vive a cura,
e ninguém suspeita.
Voa a abelha,
mansa e fatal,
carregando no ventre
um segredo de fogo.
Não traz espada,
mas mel e veneno,
e dentro do veneno,
um sussurro molecular
que diz ao cancro:
“Basta.”
A melitina,
gota de guerra invisível,
entra na célula corrupta
como se soubesse o caminho,
não pede licença,
desintegra o silêncio
onde a morte se instala.
E em menos de uma hora,
onde havia sombra,
resta nada.
As células sãs,
tocadas, mas intactas,
como se a abelha
soubesse distinguir o justo
do invasor.
Não é milagre,
é ciência com perfume de jardim,
é natureza a lembrar
que tudo quanto fere
pode também salvar.
Talvez a cura
venha mesmo do zumbido,
do voo breve,
do instinto cego
de quem só vive
para tocar a flor
e regressar ao sol.
E talvez, um dia,
quando os laboratórios escutarem
com ouvidos de terra,
entendam que a salvação
também tem asas
e trabalha em silêncio.
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