Seguidores

quinta-feira, 17 de julho de 2025

O Canto da Melitina / J.M.J.

No ventre de uma flor

vive a cura,

e ninguém suspeita.

 

Voa a abelha,

mansa e fatal,

carregando no ventre

um segredo de fogo.

 

Não traz espada,

mas mel e veneno,

e dentro do veneno,

um sussurro molecular

que diz ao cancro:

“Basta.”

 

A melitina,

gota de guerra invisível,

entra na célula corrupta

como se soubesse o caminho,

não pede licença,

desintegra o silêncio

onde a morte se instala.

 

E em menos de uma hora,

onde havia sombra,

resta nada.

 

As células sãs,

tocadas, mas intactas,

como se a abelha

soubesse distinguir o justo

do invasor.

 

Não é milagre,

é ciência com perfume de jardim,

é natureza a lembrar

que tudo quanto fere

pode também salvar.

 

Talvez a cura

venha mesmo do zumbido,

do voo breve,

do instinto cego

de quem só vive

para tocar a flor

e regressar ao sol.

 

E talvez, um dia,

quando os laboratórios escutarem

com ouvidos de terra,

entendam que a salvação

também tem asas

e trabalha em silêncio.

Sem comentários:

Enviar um comentário