Não houve toque,
nem voz ao ouvido,
houve palavras escritas
em papel invisível,
e, ainda assim,
ardeu.
Sentei-me para compor um poema
e o corpo veio,
veio como se esperasse há séculos,
como se o tempo todo
fosse apenas prenúncio.
Não era saudade,
era fome
daquela que não pede,
reclama.
Fiquei ali,
entre versos e respiração,
surpreendido com a minha própria
sede,
a pulsação a dizer-me
que ainda sou terra fértil.
Quem diria?
Eu, tão contido na ausência,
descobri que bastam palavras certas
para o sangue acordar.
E compreendi:
há em mim
um deus escondido
que só desperta
quando a beleza toca
onde ninguém vê.
Não quero calar esse deus,
quero que dance,
mesmo que o mundo
não lhe dê palco.
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