Não há Deus onde um tanque entra,
não há perdão no estilhaço que varre crianças em nome
da segurança,
não há “tiros perdidos”,
há intenções camufladas,
mapas lidos ao milímetro,
e um silêncio cúmplice com sotaque diplomático.
A igreja não caiu sozinha,
caiu o último reduto do impossível:
um lugar de fé,
de abrigo,
de inocência ferida,
de infância a dormir sobre terços partidos.
Seiscentos,
como seiscentas chamas pequenas
sopradas de uma só vez
pelo sopro mecânico de um blindado.
Três morreram,
mas quantos mais ficaram sepultados dentro,
sem sequer terem morrido?
Israel diz:
“Foi sem querer.”
e o mundo,
como sempre,
engole mais um “erro técnico”
com gosto a cinismo diplomático.
Mas houve intenção,
houve alvo,
houve mira.
E nós sabemos.
Sabemos que cada pedra santa atingida
é um recado sujo,
uma assinatura à bomba,
uma profanação.
O pároco, ainda vivo,
reza por aqueles que o feriram,
mas eu,
eu não rezo,
eu escrevo.
Escrevo para dizer:
a paz não virá dos que bombardeiam igrejas,
nem dos que lavam as mãos com comunicados.
Virá dos que se recusam
a calar,
quando a casa de Deus é usada
como alvo.
E se Deus é ainda real,
que se levante,
mas se não vier,
seremos nós
a erguer a justiça
em nome Dele.
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