Não são os que gritam mais alto,
nem os que assinam tratados com mãos lavadas
de sangue alheio.
São os que caminham descalços
sobre os escombros do mundo
com o coração intacto.
A paz não se entrega
a quem a usa como medalha,
mas a quem a cultiva em silêncio,
como se semeasse pão no deserto.
É por isso que a paz
reconhece Waad al-Kateab,
que filmou com o peito aberto
enquanto as bombas caiam sobre Alepo,
com a filha nos braços
e a verdade no olhar.
Reconhece Raoni,
guardião do verde antigo,
que fala com a floresta
como quem reza pelo futuro,
um guerreiro sem espada,
só com raízes e dignidade.
A paz também vê
os rostos que a História esqueceu,
as mulheres que resistem sob véus de opressão,
os médicos que costuram corpos e esperança,
os jovens que escrevem liberdade nos muros
com tinta que a tirania não apaga.
E tu,
que não mandas no mundo,
mas amas sem bandeira,
és também nomeado.
Porque a paz,
quando for justa,
não terá um só vencedor,
mas todos os que, no meio da guerra,
escolheram continuar humanos.
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