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quinta-feira, 17 de julho de 2025

A Paz Não Veste Farda / J.M.J.

A paz não desce de helicóptero,

nem usa gravata em cúpulas fechadas,

não pousa para câmaras,

nem sorri em palcos dourados.

 

A paz

não se escreve com sangue

nem se assina entre muros de ocupação,

ela não nasce do medo

nem da chantagem disfarçada de diplomacia.

 

A paz não se mascara de papa,

nem se veste de super-herói em campanha,

não pede Nobéis com voz de genocida,

nem transforma vítimas em pretexto

para mais armas.

 

Ela caminha descalça

pelas tendas rasgadas de Gaza,

carrega corpos em Mariupol,

traz leite às crianças de Rafah,

recolhe náufragos no Egeu

sem perguntar de que lado do muro vieram.

 

A paz fala a língua das mulheres

que gritam liberdade com os cabelos ao vento,

dos médicos que operam à luz de velas,

dos jovens que desafiam a tirania

com cartazes nas mãos suadas

e olhos firmes.

 

A paz não é prémio,

é persistência.

 

É o gesto anónimo

que acolhe o outro

como se fosse irmão,

é o coração indígena

que guarda a floresta como quem guarda o mundo.

 

É a verdade,

dita mesmo quando a cela espera,

mesmo quando o mundo escolhe não ouvir.

 

A paz não faz barulho

mas quando chega,

desarma os tiranos com o simples

ato de permanecer.

 

E a paz,

quando tudo ruir,

não estará no nome dos vencedores,

mas nos gestos que ninguém viu

e nas vozes que não se calaram.

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