A paz não desce de helicóptero,
nem usa gravata em cúpulas fechadas,
não pousa para câmaras,
nem sorri em palcos dourados.
A paz
não se escreve com sangue
nem se assina entre muros de ocupação,
ela não nasce do medo
nem da chantagem disfarçada de diplomacia.
A paz não se mascara de papa,
nem se veste de super-herói em campanha,
não pede Nobéis com voz de genocida,
nem transforma vítimas em pretexto
para mais armas.
Ela caminha descalça
pelas tendas rasgadas de Gaza,
carrega corpos em Mariupol,
traz leite às crianças de Rafah,
recolhe náufragos no Egeu
sem perguntar de que lado do muro vieram.
A paz fala a língua das mulheres
que gritam liberdade com os cabelos ao vento,
dos médicos que operam à luz de velas,
dos jovens que desafiam a tirania
com cartazes nas mãos suadas
e olhos firmes.
A paz não é prémio,
é persistência.
É o gesto anónimo
que acolhe o outro
como se fosse irmão,
é o coração indígena
que guarda a floresta como quem guarda o mundo.
É a verdade,
dita mesmo quando a cela espera,
mesmo quando o mundo escolhe não ouvir.
A paz não faz barulho
mas quando chega,
desarma os tiranos com o simples
ato de permanecer.
E a paz,
quando tudo ruir,
não estará no nome dos vencedores,
mas nos gestos que ninguém viu
e nas vozes que não se calaram.
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