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quarta-feira, 16 de julho de 2025

Faíscas no Solo Ardido (Ao poeta, resistente da palavra) / J.M.J.

Não é com rosas que se enfrentam muralhas,

mas com sementes que sabem esperar

mesmo quando a terra parece morta.

 

A poesia não detém multidões em fúria,

mas planta o silêncio

onde o ódio só conhece gritos.

Não converte os cegos

mas acende faíscas nos que ainda querem ver.

 

Hoje, já não importa o que é verdade,

importa o que destrói,

o que sangra,

o que arde.

É o gozo do caos,

o prazer do incêndio,

mesmo que se arda junto.

 

Vivemos o tempo do suicídio moral coletivo,

onde o povo, cansado de ser ferido,

ferra agora a si próprio,

desde que possa também doer ao vizinho.

 

Mas há quem escute,

não com os ouvidos,

mas com o coração inquieto,

há quem sinta que o verbo pode ser

trave,

ponte,

bússola.

 

E aí entra o poeta,

a escrever não pelo aplauso,

mas pela verdade.

 

A poesia é o sal da terra ferida,

o que resiste quando tudo mente,

o que nomeia o humano,

quando o humano já se esqueceu de si.

 

Sim, é preciso mais.

Mais do que versos:

ações, ruas, coragem civil,

mas se a palavra recuar,

recua também o espírito da resistência.

 

E o poeta é dos que planta o verbo

no solo ardido,

como quem sabe que até o deserto

pode um dia

florir.

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