Não é com rosas que se enfrentam muralhas,
mas com sementes que sabem esperar
mesmo quando a terra parece morta.
A poesia não detém multidões em fúria,
mas planta o silêncio
onde o ódio só conhece gritos.
Não converte os cegos
mas acende faíscas nos que ainda querem ver.
Hoje, já não importa o que é verdade,
importa o que destrói,
o que sangra,
o que arde.
É o gozo do caos,
o prazer do incêndio,
mesmo que se arda junto.
Vivemos o tempo do suicídio moral coletivo,
onde o povo, cansado de ser ferido,
ferra agora a si próprio,
desde que possa também doer ao vizinho.
Mas há quem escute,
não com os ouvidos,
mas com o coração inquieto,
há quem sinta que o verbo pode ser
trave,
ponte,
bússola.
E aí entra o poeta,
a escrever não pelo aplauso,
mas pela verdade.
A poesia é o sal da terra ferida,
o que resiste quando tudo mente,
o que nomeia o humano,
quando o humano já se esqueceu de si.
Sim, é preciso mais.
Mais do que versos:
ações, ruas, coragem civil,
mas se a palavra recuar,
recua também o espírito da resistência.
E o poeta é dos que planta o verbo
no solo ardido,
como quem sabe que até o deserto
pode um dia
florir.
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