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quinta-feira, 17 de julho de 2025

O Silêncio de Ghislaine / J.M.J.

Ela conhece os nomes.

Todos.

Não os gritou ao mundo,

escondeu-os no véu do privilégio,

como se fossem jóias herdadas

do império do pai caído.

 

Chamam-lhe cúmplice,

mas era mais,

era chave-mestra da casa sem janelas,

onde se trancavam as vozes das meninas

e se vestia o abuso com roupa de gala.

 

Ghislaine, sentada no trono do silêncio,

não tremeu com a queda do amante,

não cedeu às perguntas,

nem às promessas de redenção.

Ela sabia

que a verdade, ali,

era mais perigosa que a cela.

 

Porque não se trata só dela,

nem de Epstein,

mas do teatro todo,

das máscaras bem postas,

dos nomes sem rosto,

das festas onde se brindava

com o corpo da inocência.

 

Ela calou-se,

e o mundo também.

Só as vítimas falam,

com vozes partidas,

a carregar memórias como provas

que os tribunais não querem ouvir.

 

A lista?

Talvez nunca a vejamos,

talvez arda

nas mãos de quem devia proteger.

 

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