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domingo, 14 de setembro de 2025

Entre Marés e Centelhas

O coração sente marés que sobem e descem,

ondas de emoção que recuam e avançam,

trazendo memórias, desejos e sombras antigas.

 

Fagulhas inesperadas riscam o céu interior,

sacudindo hábitos, rompendo certezas,

desafiando a coragem de ser inteiro.

 

Há encontros entre sonhos e intenções,

um fio tênue entre o que se deseja

e o que a alma sabe ser necessário.

 

Impulsos urgentes testam limites,

chamando à ação consciente,

e cada passo cuidadoso constrói pontes

entre pensamento e sentimento,

entre impulso e razão.

 

No silêncio que observa e acolhe,

descobre-se que o movimento interior

é espelho do mundo que nos cerca,

e que cada centelha de atenção

pode iluminar caminhos de transformação. 

O Bando Sagrado

Duzentas e noventa e nove espadas

e mais uma, inseparável,

ergueram-se contra a sombra do império.

 

Não eram apenas guerreiros,

eram corpos que ardiam em pares,

corações atados por juramentos silenciosos.

Cada golpe, cada escudo erguido,

era também a promessa de não abandonar

o olhar amado na poeira da batalha.

 

Em Leuctra, quebraram o orgulho de Esparta:

não foi o número,

mas a fidelidade feita lâmina

que abriu a muralha inimiga.

 

E em Queronéia, quando a morte chegou,

nenhum retrocedeu.

Caíram lado a lado,

como caem árvores entrelaçadas,

como estrelas que, ao apagar-se,

formam ainda constelações.

 

Sobre eles ergueu-se um leão de pedra,

mas a verdadeira memória

não está no mármore nem no mito:

vive na ousadia de amar sem temor,

de lutar com o coração exposto,

de fazer da ternura uma arma,

e da fidelidade, eternidade.

 

 

(Este poema nasce em homenagem ao Bando Sagrado de Tebas, a lendária tropa formada por cento e cinquenta pares de amantes que, unidos por laços de afeto e coragem, enfrentaram os maiores exércitos do seu tempo. Mais do que guerreiros, eram companheiros que transformaram a intimidade em força, a lealdade em lâmina e o amor em escudo. A sua memória não é apenas militar ou histórica: é também um testemunho de como a ternura pode habitar no campo de batalha, e de como a fidelidade humana pode desafiar impérios e a própria morte.)

Sementes de Justiça

Não há duas maneiras de florir

onde a vida de outro é negada.

A árvore cresce, sim, mas se esquece

que o chão é comum, que a sombra é partilhada.

 

O racismo é vento que seca raízes,

a xenofobia, pedra que rompe ramos.

Negar direitos é podar a seiva da esperança,

é cortar flores antes do desabrochar.

 

A dignidade é tronco que sustenta todos,

cada folha é sagrada, cada fruto, direito.

Quem nega a vida do outro

não apenas erra, destrói o bosque inteiro.

 

E mesmo que tentem silenciar,

a verdade volta, forte como raiz,

a lembrar que existir com justiça

é a única forma de crescer plenamente.

 

 

 

 

(Este poema nasceu da reflexão sobre a importância da dignidade humana, da justiça e do respeito pelo outro. Utiliza a metáfora da árvore para simbolizar como a vida coletiva e os direitos de cada indivíduo estão interligados: não é possível florescer plenamente se a vida do outro é negada ou silenciada. Racismo, xenofobia e negação de direitos aparecem como forças que prejudicam o crescimento de todos, enquanto a consciência ética e a valorização da vida do outro representam a seiva que sustenta o bosque humano.)

 

Horizontes Humanos

Reflexos de Verdade

 

O espelho devolve não o rosto,

mas a forma como nos percebemos.

Cada gesto, cada palavra,

trai ou revela a luz que carregamos.

 

Olhar o outro é olhar-se a si mesmo,

e na clareza que nasce desse encontro

descobre-se a medida do justo:

não nas leis alheias,

mas no pulso ético que pulsa silencioso

em cada coração atento.

 

 

 

 

Raiz da Humanidade

 

Há raízes que não se veem,

que atravessam gerações e memórias.

Elas sustentam o que somos

e nos recordam que a dignidade não é concessão,

mas herança de séculos de coragem e consciência.

 

Negar o outro é cortar troncos invisíveis

que nos mantêm de pé;

respeitar, acolher, proteger

é fazer florescer a vida que nos liga.




(Estes poemas sob o título Horizontes Humanos, busca refletir sobre a dignidade, o respeito e a aceitação do outro, explorando a tensão entre injustiça, preconceito e a capacidade humana de reconhecer a verdade. Cada texto é uma meditação poética sobre os direitos, valores e raízes que sustentam a convivência ética e solidária, convidando a atenção para a consciência de si e do outro, e para o impacto das nossas escolhas na construção de um mundo mais justo.)

Sombras do Futuro

Quando o medo se ergue,

o outro deixa de ser vizinho

e torna-se ameaça.

 

Cada palavra que separa

é uma pedra que endurece o chão

sob nossos passos.

 

O verdadeiro avanço não se mede

em títulos ou poder,

mas em pontes que unem corações,

em coragem que protege a vida

quando o fácil é temer.

 

Dividindo, retrocedemos;

somos sombra sobre nós mesmos,

e o futuro se curva

sob o peso da nossa própria desconfiança.

Ritmo da Consciência

Chamas Invisíveis

 

Cada gesto acende um fogo silencioso.

Nem decretos, nem templos podem apagar

a centelha que nasce do olhar atento.

O mundo move-se em sombras e ventos,

mas a clareza ilumina caminhos que ninguém domina.

 

 

 

 

Vozes do Espírito

 

O murmúrio da razão atravessa paredes,

não pede licença, não se curva a tronos.

Entre o medo e o impulso,

há uma dança que ensina:

o verdadeiro poder habita quem conhece a si mesmo.

 

 

 

 

Pedra e Água

 

As muralhas caem sob o toque da reflexão.

O ódio e a inveja desgastam-se com o tempo,

como se água e pedra se entendessem.

A fidelidade ao próprio espírito é a fortaleza

que nenhuma ordem pode corroer.

 

 

 

 

Alvorecer Ético

 

Na escuridão do conformismo,

uma mão ergue-se, discreta, firme.

É o impulso de agir com consciência,

de amar sem rendição,

de transformar cada escolha em liberdade.

 

 

 

 

Horizonte Interior

 

O mundo oferece tempestades e tronos vazios.

Mas o verdadeiro reinado é silencioso:

é a harmonia entre razão e emoção,

entre desejo e ética,

entre o instante e a eternidade do que somos.

 

 

 

 

(Esta coletânea de poemas, Ritmo da Consciência, nasce da atenção aos movimentos internos do espírito humano: seus desejos, medos, incertezas e momentos de clareza. Cada texto busca captar a pulsação íntima da consciência, a cadência entre razão e emoção, e a força silenciosa que nos guia a escolhas éticas e conscientes.

Não se trata de ensinar nem de impor verdades, mas de registrar a experiência da reflexão, do autoconhecimento e do despertar da perceção diante da vida e do mundo. Cada palavra procura ser um eco do que ressoa no interior, um convite a observar, sentir e compreender, reconhecendo que a verdadeira liberdade nasce da clareza e do alinhamento entre ação, pensamento e emoção.)

 

Evangelho da Liberdade

As Palavras e o Poder

 

Escreveram em tábuas,

em papiros gastos,

com mãos trémulas de fé e medo.

 

Cada linha não era céu,

era tempo:

reis e sacerdotes,

exílios e esperanças,

paixões de um povo

que apenas queria sobreviver.

 

Chamaram sagrado ao humano,

vestiram de eternidade o efêmero,

ergueram muralhas de letras em chamas

para guardar segredos

e domesticar consciências.

 

Mas o livro não é pedra,

é voz de homens,

carne de memória

e se nele há luz,

é porque a chama da justiça

resiste entre as cinzas.

 

 

 

 

O Homem e o Mito

 

No início, era apenas um homem:

caminhava entre os humildes,

falava em parábolas simples,

tocava feridas com mãos nuas.

 

Não erigiu templos,

não exigiu coroas de ouro,

pediu apenas que amassem

uns aos outros

como se respirassem.

 

Mas os séculos chegaram

com penas afiadas,

e escreveram dele um deus,

um trono, uma espada,

um juiz distante,

um salvador longínquo.

 

O homem perdeu-se no mito.

O gesto puro dissolveu-se

em dogmas intransponíveis

e a voz que clamava liberdade

foi usada para erguer grilhões.

 

Ainda assim,

se escutarmos no silêncio,

há uma palavra que persiste:

não pertence a igrejas

nem a impérios,

mas à vida que se dá

sem exigir nada em troca.

 

 

 

 

Correntes Invisíveis

 

Dizem falar em nome de Deus,

mas a voz soa como decreto.

Erguem escrituras como armas,

selam consciências com medo,

confundem fé com submissão.

 

No púlpito e no trono

a mesma máscara:

poder disfarçado de verdade,

ordem que se alimenta

da obediência alheia.

 

Mas nenhum édito cala

o coração que pensa,

nenhuma excomunhão apaga

a centelha da razão.

 

Liberdade não é blasfêmia,

é respiração.

É ousadia de ser humano

sem pedir licença.

 

Mesmo que cerquem palavras

com muros de censura,

o pensamento, invisível,

desliza por frestas

e floresce onde menos esperam.

 

 

 

 

Horizontes da Razão

 

A mente não se prende

a muralhas nem tradições desgastadas.

Cada ideia é um rio que escapa,

uma luz que atravessa a escuridão.

 

A liberdade não se implora,

não se concede em decretos ou mandatos,

nasce do olhar que compreende,

do espírito que reconhece

a ordem do mundo

e a necessidade de agir.

 

Racionalidade e emoção

não são rivais,

mas asas gémeas

que aprendem a voar sobre o caos cotidiano.

 

Quem pensa por si descobre

que nenhuma divindade pode aprisionar a verdade,

e nenhum poder apagar

a dignidade de existir consciente.

 

Mesmo na solidão

ou no silêncio imposto,

o homem que se conhece

é mais vasto que qualquer trono,

mais profundo que qualquer texto

que tentou moldá-lo à servidão.

 

 

 

 

O Domínio das Paixões

 

Não são deuses que nos prendem,

nem decretos que ditam nosso destino,

somos nós, com desejos e medos,

que construímos vínculos invisíveis,

laços que parecem firmes, mas são frágeis.

 

Cada emoção, cada impulso,

é convite a compreender-se,

não a ceder sem consciência.

O ódio e o medo são mestres severos,

mas quando observados com clareza,

perdem força sobre nós.

 

A alegria surge, não como capricho,

mas como fruto da razão aplicada à vida.

Aprender a amar sem se perder,

agir sem se subjugar,

é perceber que cada passo

pode dissolver o jugo que criamos.

 

O homem livre não ignora o mundo;

transforma-se em instrumento do conhecimento,

e ao entender suas paixões,

descobre que o poder real

é harmonia consigo e com o todo.

 

Na simplicidade de cada gesto,

na atenção à própria essência,

o espírito se expande,

encontra força para existir pleno

mesmo em meio ao tumulto.

 

 

 

 

O Véu da Palavra

 

Não é Deus que exige,

mas homens que tomaram o nome para si.

Livros sagrados escritos com interesse próprio,

histórias transformadas em ferramentas,

profecias usadas como correntes para a mente.

 

O templo ergue-se alto,

não para guiar, mas para controlar.

Palavras ditas em voz grave

pesam mais que entendimento,

mais que a razão que poderia libertar.

 

A fé tornou-se máscara,

um véu que encobre ambição e medo.

O que parecia sagrado

revela-se construção humana:

regras, punições, limites inventados

para manter poder sobre o invisível.

 

Mas a verdade não se oculta completamente.

Cada espírito que questiona,

cada coração que observa,

descobre que a essência do divino

não precisa de tronos nem rituais,

não pede obediência,

apenas entendimento.

 

E nesse reconhecimento silencioso,

nasce a liberdade que nem impérios

nem templos conseguem aprisionar.

 

 

 

 

Potência Silenciosa

 

Cada gesto, cada escolha, cada pensamento

é fio de luz que atravessa a existência.

Não há bênção ou maldição capaz de impor

o que a razão e a natureza já definem.

 

A alegria não vem do acaso,

nem da promessa de recompensa,

surge da compreensão profunda:

do encontro consigo mesmo,

do alinhamento entre desejo e ação.

 

O poder não se conquista sobre outros,

mas se descobre dentro de si,

na clareza que transforma medo em força,

na consciência que ilumina o caminho.

 

O mundo é vasto,

mas cada ser carrega universos silenciosos.

Quem conhece a si mesmo

aprende que nada fora de si

tem poder sobre a essência.

 

E assim, passo a passo,

respeitando limites e impulsos,

descobrimos que viver plenamente

é o ato mais radical de liberdade,

o ápice de uma ética que nasce da razão e do amor.

 

 

 

 

Entre o Sagrado e o Poder

 

O templo ergue-se alto,

mas não aproxima o homem de si mesmo.

Textos antigos distorcidos, palavras retorcidas,

a fé transforma-se em corda que prende,

não em luz que liberta.

 

Promessas e medos confundem-se,

mandamentos ecoam mais como ordens

do que como ensinamentos.

O que deveria guiar a vida

serve apenas para controlar o espírito,

para medir e julgar desejos que nasceram livres.

 

Fora das paredes, entre árvores e rios,

no silêncio que não se impõe,

o divino se revela sem intercessor:

no sol que aquece a pele,

no vento que toca o rosto,

na alegria que surge sem culpa, sem ritual.

 

A espiritualidade não exige altar,

não se alimenta de medo,

é reconhecimento da ordem da natureza,

consciência da conexão entre tudo que vive.

Quem vê o mundo assim

aprende que ética e fé não precisam

de quem as corrompa para existir.

 

Passo a passo,

o homem descobre que ser devoto

é respeitar a vida, conhecer-se,

e amar a si mesmo e aos outros

com clareza que nenhuma igreja poderá dar.

 

 

 

 

Liberdade Interior

 

A mente busca poder sobre si mesma,

mas não encontra nas amarras da vontade alheia.

Cada emoção, cada desejo,

não é inimigo a domar,

mas energia a compreender.

 

A raiva não é vilã;

o medo não é prisão.

Reconhecê-los é traçar o mapa

que leva à própria liberdade.

 

O prazer verdadeiro nasce da clareza,

não do impulso cego,

e a tristeza revela profundidades

onde a razão pode mergulhar

e transformar sofrimento em compreensão.

 

Ninguém governa por nós

o mundo interior;

somos regentes de nossos afetos,

arquitetos da vida que escolhemos viver.

 

Entre o pensar e o sentir,

descobre-se que ética é autoconhecimento,

que a paz não é concessão externa,

mas fruto de compreender as paixões

e escolher, com consciência,

o que alimenta o espírito.

 

 

 

 

(Esta coleção de poemas "Evangelho da Liberdade" nasce da inspiração na obra e no pensamento de Espinosa, particularmente na forma como ele explorou a relação entre razão, liberdade e as paixões humanas. Cada texto é uma reflexão poética sobre a busca da autonomia interior, o questionamento das estruturas de poder e dogmas que tentam controlar a vida, e a redescoberta da liberdade através do conhecimento de si mesmo.

Os poemas não pretendem narrar histórias sagradas nem ensinar doutrinas; procuram revelar o humano que habita em cada texto histórico, cada tradição e cada experiência, destacando o fio luminoso da razão, da ética e da consciência que atravessa os tempos.

Estes poemas é um convite a reconhecer suas próprias paixões e medos, a compreender que a verdadeira liberdade não se impõe de fora, mas nasce do entendimento interior e da coragem de agir com clareza e responsabilidade. É uma homenagem à capacidade humana de transformar sofrimento em consciência, confusão em discernimento, e impulso em ação consciente.

Em cada poema, a voz da razão e da vida tenta sussurrar que, mesmo diante de opressões e mitos, a essência do ser não pode ser aprisionada. A liberdade é um ato silencioso, um processo contínuo de autoconhecimento e amor ético pelo mundo e por si mesmo.)