No centro do espiralado ventre da galáxia
existe um não-lugar,
uma ausência que pesa mais do que quatro milhões de
sóis,
um monstro calado
que nunca chegou a nascer.
Não é olho,
nem boca,
mas tudo converge para si,
como se o cosmos soubesse
que ali vive o seu segredo mais antigo.
As estrelas dançam à sua volta
numa obediência sem nome,
como monges girando em torno
de um deus sem face.
Diz-se que é buraco negro,
mas talvez seja apenas o nome humano
para o lugar onde termina o tempo
e começa a consciência.
Não tem luz,
mas tem sombra,
e essa sombra é a prova
de que o invisível existe.
É o útero do vazio
onde o espaço se curva sobre si mesmo
e os átomos se rendem
à gravidade do mistério.
No íntimo, talvez todos tenhamos um Sagittarius A*
a pulsar-nos no peito,
a chamar-nos para dentro,
quando tudo à volta se desfaz.
Porque é ali,
no núcleo silencioso do que não compreendemos,
que repousa a verdade
antes de ter nome.
Sem comentários:
Enviar um comentário