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domingo, 3 de agosto de 2025

O Útero do Vazio / J.M.J.

No centro do espiralado ventre da galáxia

existe um não-lugar,

uma ausência que pesa mais do que quatro milhões de sóis,

um monstro calado

que nunca chegou a nascer.

 

Não é olho,

nem boca,

mas tudo converge para si,

como se o cosmos soubesse

que ali vive o seu segredo mais antigo.

 

As estrelas dançam à sua volta

numa obediência sem nome,

como monges girando em torno

de um deus sem face.

 

Diz-se que é buraco negro,

mas talvez seja apenas o nome humano

para o lugar onde termina o tempo

e começa a consciência.

 

Não tem luz,

mas tem sombra,

e essa sombra é a prova

de que o invisível existe.

 

É o útero do vazio

onde o espaço se curva sobre si mesmo

e os átomos se rendem

à gravidade do mistério.

 

No íntimo, talvez todos tenhamos um Sagittarius A*

a pulsar-nos no peito,

a chamar-nos para dentro,

quando tudo à volta se desfaz.

 

Porque é ali,

no núcleo silencioso do que não compreendemos,

que repousa a verdade

antes de ter nome.

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