Seguidores

domingo, 24 de agosto de 2025

Épicos da Mesopotâmia: Cartografia do Caos e da Ordem

Este conjunto de poemas é uma viagem ao coração da Mesopotâmia antiga, onde deuses e homens se entrelaçam em histórias de criação, ambição, guerra, sabedoria e destino. Inspirando-me nos mitos sumérios e acádios, procurei traduzir para a palavra poética os conflitos, os ensinamentos e as forças primordiais que moldaram o cosmos e a civilização.

Cada poema convida o leitor a percorrer um universo onde o caos se transforma em ordem, o esforço humano encontra orientação divina e o destino é medido tanto pela coragem quanto pela disciplina. Entre batalhas épicas, desafios à autoridade divina e a busca incessante pelo conhecimento, os relatos antigos são reinterpretados, mostrando que os dilemas de outrora ainda ecoam na experiência humana de hoje.

Esta obra não é apenas uma recriação de histórias antigas; é uma exploração poética do que nos torna humanos, do poder, da responsabilidade e do eterno equilíbrio entre o divino e o mortal.



Cartografia do Caos

 

No princípio, nada era forma,

apenas águas entrelaçadas,

doces e salgadas, um ventre sem margens.

 

Do silêncio nasceram os deuses,

filhos inquietos da noite líquida,

mas Tiamat ergueu-se,

mãe e monstro, mar e abismo,

semeando dragões, ventos de fogo,

um exército do caos.

 

Então Marduk, jovem e ousado,

traz na mão a rede do destino.

Enfrentando a Mãe, rasga-lhe o ventre,

espalha o grito pelas marés.

 

O corpo despedaçado

torna-se mapa do universo:

céu elevado das costelas,

terra moldada do ventre,

rios correndo do seu sangue.

 

E do sangue de Kingu,

companheiro da revolta,

misturado ao barro das margens,

nasce o homem,

carne de pó, memória divina,

servo e guardião de um mundo partido.

 

E assim o cosmos respira:

feito de guerra,

de morte,

de um silêncio transformado em canto.

 

 

(O poema inspira-se no Enuma Elish, o épico babilónico da criação. Neste texto, os deuses nascem do caos primordial, das águas doces de Apsu e das águas salgadas de Tiamat. Quando Tiamat, símbolo do abismo e do caos, se rebela, o jovem deus Marduk enfrenta-a e, após a vitória, cria o mundo a partir do corpo da deusa derrotada. O homem surge do sangue de Kingu, líder da rebelião, misturado com o barro da terra. Esta narrativa revela como, para os povos mesopotâmicos, o cosmos nasce da violência e da ordem imposta sobre o caos, refletindo tanto a fragilidade humana como a sua ligação ao divino.)

 

 

 

Barro e Sangue

 

Enki, senhor das águas profundas,

olhou para o esforço dos deuses menores,

cansados, sobrecarregados,

e decidiu dar forma ao servo perfeito:

o homem.

 

Do barro das margens moldou a carne,

e do sangue de um deus rebelde,

misturou a memória da divindade

e nasceu assim o homem,

eco de deuses, filho do trabalho,

carregado de destino e consciência.

 

Não pediu glória, nem força infinita,

mas a curiosidade e o medo

para caminhar entre o céu e a terra,

entre o silêncio do sagrado e o ruído do mundo.

 

Entre barro e sangue,

a humanidade respira, tropeça, aprende,

levando consigo

a lembrança de que o cosmos não é dado,

é conquistado.

 

 

(O poema inspira-se nas tradições sumérias e acádias sobre a criação da humanidade. Segundo esses mitos, o deus Enki, senhor das águas e da sabedoria, moldou o homem a partir do barro das margens e misturou nele sangue de um deus rebelde, conferindo à humanidade tanto força vital quanto memória divina. A narrativa reflete a visão antiga de que o homem nasce para servir aos deuses, mas também carrega em si a consciência, a curiosidade e a responsabilidade de existir entre o céu e a terra. O poema procura captar essa tensão entre o sagrado e o humano, entre o destino e a liberdade.)

 

 

 

O Dilúvio do Mundo

 

As nuvens engoliram o céu,

e o vento trouxe o rugido das águas,

uma fúria sem rosto,

um mar que não conhecia margens.

 

Os deuses, enfurecidos,

vieram sobre a terra,

esquecendo a ternura,

lembrando apenas o peso da ordem.

 

Mas um homem, escolhido,

escapou ao esquecimento:

Utnapishtim, Ziusudra,

eco de justiça e memória,

guardião da vida que persistia.

 

Em seu barco, entre monstros de espuma e trovões,

levava sementes, animais, histórias,

a promessa de que o mundo poderia nascer outra vez.

 

Quando o sol rompeu o véu das nuvens,

e a água baixou sobre os campos dilacerados,

o homem olhou o céu e a terra,

e soube: do caos, sempre renasce a ordem,

e da destruição, a esperança.

 

 

(O poema inspira-se nos mitos sumérios e acádios sobre o dilúvio primordial, narrado nas histórias de Utnapishtim (ou Ziusudra, na tradição suméria). Segundo estes relatos, os deuses decidiram inundar a terra para punir a humanidade, mas escolheram um homem justo para sobreviver e preservar a vida. Ele leva consigo sementes, animais e memórias, garantindo a continuidade da humanidade e da ordem sobre o caos. Este mito antecipa e influencia outras tradições de dilúvio, incluindo a narrativa bíblica de Noé, mostrando a tensão entre destruição, justiça divina e renascimento.)

 

 

 

Portões do Submundo

 

Inanna desceu pelos sete portões,

cada um pesado, sombrio, sem misericórdia

e a cada obstáculo, uma parte de si deixava:

jóias, roupas, poder, orgulho, máscara e voz.

 

O mundo abaixo a observava,

silencioso, sem respiração, sem sol

e ela, a deusa que ama e destrói,

caminhava entre sombras que sussurravam:

“Quem ousa desafiar a morte e a ordem?”

 

No centro do abismo, nua e vulnerável,

foi detida, presa, esquecida,

mas a vida que carregava em si era mais forte

que os portões, que a escuridão, que o silêncio.

 

Com astúcia, coragem e destino,

ressurgiu à luz, completa e transformada,

trazendo consigo não apenas seu poder,

mas o segredo do equilíbrio:

a morte não é fim,

é passagem, e a coragem é renascimento.

 

 

(O poema inspira-se no mito sumério/acádio da deusa Inanna (ou Ishtar na tradição acadiana) e a sua descida ao submundo. Segundo a narrativa, Inanna atravessa sete portões, deixando para trás aspectos de si mesma a cada passo, até ser presa no centro do mundo inferior. A história simboliza a confrontação com a morte, a perda e a vulnerabilidade, mas também o renascimento e a transformação. Ao emergir, Inanna não apenas recupera o seu poder, mas revela o equilíbrio entre vida e morte, força e fragilidade, mostrando como o crescimento e a renovação exigem coragem e sacrifício.)

 

 

 

Sopro das Cidades

 

Enki olhou para o barro fértil,

Enlil ergueu a voz sobre a planície.

Juntos, moldaram as margens,

trazendo forma ao caos,

trazendo limites ao vento.

 

Do barro surgiram ruas e praças,

torres que tocavam o céu,

pátios onde o riso e o choro

dividiam o mesmo espaço.

 

E as leis nasceram como rios de ordem,

correndo entre casas, mercados e templos,

guiando o homem, aprendiz de deuses,

a respeitar o equilíbrio da vida e do trabalho.

 

Cada pedra, cada tijolo,

carregava o sopro divino:

responsabilidade, justiça, vigilância.

A cidade não era apenas abrigo,

mas testemunha da criação consciente,

um espelho do cosmos,

onde ordem e liberdade coexistem

sob a sombra dos deuses.

 

 

(O poema inspira-se na tradição suméria e acádia sobre a criação das cidades e das leis por Enki e Enlil. Segundo o mito, os deuses moldaram o barro da terra para construir cidades, dando forma ao caos e criando espaços de convivência, comércio e culto. Enki, deus da sabedoria, e Enlil, deus do céu e do destino, também instituíram as leis que regulavam a vida humana, transmitindo responsabilidade, justiça e ordem. O poema procura refletir como a civilização é uma extensão do cosmos: organizada, protegida e guiada por princípios divinos, mas também dependente da ação consciente do homem.)

 

 

 

Atrahasis: Trabalho e Destino

 

Os deuses cansaram-se do labor,

os campos, rios e céus pesavam sobre seus ombros.

Para aliviar seu fardo, moldaram o homem:

barro e sangue de divindade,

eco do poder, servo do esforço.

 

O homem cresceu, trabalhou, erguendo cidades,

fazendo o mundo girar para os deuses.

Mas sua vida barulhenta despertou a ira:

o excesso de vozes, de queixas, de riso,

incomodava os que habitavam o céu.

 

Enki, sábio, olhou para o barro vivo,

sussurrou ao escolhido Atrahasis:

“Constrói, preserva, lembra:

a humanidade é frágil,

mas também portadora de memória divina.”

 

E assim o homem seguiu,

entre a ordem e a pressão dos deuses,

carregando o fardo que lhes foi dado,

aprendendo que existir é labor e astúcia,

que a sobrevivência é pacto,

e que a liberdade brota mesmo sob o olhar dos imortais.

 

 

(O poema inspira-se no mito sumério/acádio de Atrahasis, que relata a criação da humanidade pelos deuses para aliviar o fardo do trabalho divino. Segundo a narrativa, o homem é moldado a partir do barro e do sangue divino, tornando-se servo dos deuses, mas também portador de consciência e memória. Atrahasis, escolhido por Enki, representa a astúcia e a sobrevivência humana frente à ira divina, mostrando como a vida exige equilíbrio entre o labor, a obediência e a preservação da existência. O poema procura explorar a relação entre destino, trabalho e responsabilidade, revelando a humanidade como intermediária entre o divino e o mundo físico.)

 

 

 

Ninurta: Guerreiro do Cosmos

 

Nos confins do céu e da terra,

o caos rugia, monstros sem nome serpenteavam,

levantando tempestades e sombras sobre o mundo.

 

Ninurta empunhou a clava sagrada,

cada golpe ecoava como trovão,

cada passo abria caminhos no abismo.

 

Dragões e bestas, filhos do desordem,

eram enfrentados sem temor,

pois a justiça e a coragem pulsavam

no peito do guerreiro divino.

 

O sangue do inimigo misturava-se à terra,

fertilizando campos e rios,

enquanto Ninurta, firme e incansável,

restaurava limites, traçava fronteiras,

dando forma à vida e à ordem.

 

E assim o herói ergueu-se,

não apenas como vencedor,

mas como guardião da humanidade,

protetor de cidades e reis,

ecoando entre estrelas e barro

a lembrança de que a coragem enfrenta o caos,

e a ordem nasce da batalha.

 

 

 

(O poema inspira-se no mito sumério/acádio de Ninurta, deus guerreiro e herói divino. Segundo a narrativa, Ninurta enfrenta monstros e forças do caos, restaurando a ordem sobre a terra e protegendo a humanidade. Cada batalha simboliza a luta entre desordem e justiça, destruição e construção, destacando a coragem e a responsabilidade de manter o equilíbrio do mundo. O poema procura refletir como o herói divino atua como guardião do cosmos e da civilização, e como a vitória sobre o caos permite à humanidade florescer sob a proteção e a sabedoria dos deuses.)

 

 

 

O Rapto de Dumuzi

 

O campo florescia sob o olhar de Inanna,

a deusa da vida, da guerra e do desejo.

Dumuzi, pastor amado, caminhava entre o verde,

sem saber que sombras se moviam além dos portões do submundo.

 

A morte o chamou, silenciosa, implacável,

arrastando-o para o reino das sombras,

enquanto Inanna, desesperada,

sentia o mundo murchar sob a perda.

 

Mas o amor e a astúcia dos deuses

traçaram ciclos,

entre dor e renovação,

entre ausência e retorno.

 

Dumuzi desceu, e a terra suspirou,

Inanna chorou, e a vida voltou aos campos.

O verão e o inverno, a seca e a chuva,

o trabalho da terra e a festa do rebanho

recordam-nos que a morte não é final,

e que a perda abre caminho à fertilidade e à esperança.

 

 

(O poema inspira-se no mito sumério/acádio de Inanna/Ishtar e Dumuzi, que representa o ciclo da fertilidade, da morte e da renovação. Segundo a narrativa, Dumuzi, pastor amado de Inanna, é raptado para o submundo, causando sofrimento à deusa e à terra. Através da intervenção dos deuses, estabelecem-se ciclos entre vida e morte, perda e retorno, simbolizando a alternância das estações, a fertilidade da terra e a esperança renovada. O poema procura refletir o equilíbrio entre amor, dor e renovação, mostrando como os deuses interagem com a humanidade e como a vida se renova mesmo após a ausência e a perda.)

 

 

 

Enki: Sopro do Conhecimento

 

Nas margens do Tigris e do Eufrates,

Enki observava o homem trabalhar o barro,

erguer cidades, cultivar campos,

mas ignorante do destino que lhe fora dado.

 

O deus astuto sorriu e soprou sobre a terra,

uma brisa de sabedoria, um fio invisível

que se entranhou nas mãos e na mente do homem.

 

Do barro nasceu não apenas carne,

mas entendimento: a arte de medir, contar, prever, criar.

O conhecimento corria como rios,

alimentando a mente e fertilizando a terra.

 

E assim a humanidade aprendeu a ler o céu,

a entender a chuva, a calcular o tempo,

a moldar o barro e a vida,

a sobreviver, a prosperar,

não apenas como servos,

mas como guardiões da própria existência.

 

Enki sorriu mais uma vez,

sabendo que o sopro divino

é o elo entre deuses e homens,

o mapa invisível que torna o caos compreensível,

a ignorância transformada em sabedoria.

 

 

(O poema inspira-se no mito sumério/acádio de Enki, deus da sabedoria, das águas e da criação. Segundo a narrativa, Enki observa a humanidade trabalhando e, desejando ajudá-la, transmite o conhecimento divino: artes, ofícios, medição, agricultura, previsão e compreensão do mundo. O sopro de Enki simboliza a sabedoria que conecta deuses e homens, transformando o caos em ordem e capacitando a humanidade a sobreviver e prosperar. O poema procura refletir sobre o papel do conhecimento como herança divina, mostrando que a inteligência e a criatividade humanas são frutos da orientação e inspiração dos deuses.)

 

 

 

As Tábuas Roubadas

 

Um grito rasga o firmamento:

Anzu, a ave de fogo e sombra,

com asas que cobrem o sol,

rouba das mãos de Enlil

as Tábuas do Destino.

 

O cosmos estremece.

Sem as tábuas,

rios desviam o seu curso,

ventos confundem os mares,

os deuses hesitam,

e o homem treme.

 

“Quem ousará enfrentar o monstro?”

silêncio entre os imortais,

até que Ninurta,

filho do trovão e da justiça,

empunha a sua arma de luz.

 

O combate é furioso,

relâmpagos contra garras,

redemoinhos contra penas ardentes.

Anzu ergue-se,

mas Ninurta fere-lhe o peito,

e o grito da ave ecoa

até às margens do abismo.

 

As Tábuas regressam,

a ordem é restaurada,

mas na memória dos deuses

permanece a lição:

a harmonia é frágil,

basta uma ave rebelde

para abalar o destino do mundo.

 

 

(O poema inspira-se no mito mesopotâmico de Ninurta e Anzu, preservado em textos sumérios e acadios. A história relata o roubo das Tábuas do Destino por Anzu, uma ave divina associada ao caos. As tábuas eram vistas como símbolos cósmicos que garantiam a ordem do universo e o poder dos deuses. Sem elas, o equilíbrio do mundo é abalado. Ninurta, deus guerreiro e filho de Enlil, aceita o desafio de enfrentar Anzu, derrotando-o e restaurando a ordem.

Este mito reflete uma preocupação fundamental das antigas civilizações da Mesopotâmia: a fragilidade da ordem cósmica e a necessidade de guardiões que a defendam do caos sempre iminente.)

 

 

 

Enlil: Sopro sobre a Terra

 

Entre céus e rios, Enlil olhava,

os campos vastos, o barro fértil,

e os homens ainda sem rumo,

sem cidade, sem templo, sem lei.

 

Com um gesto, soprou sobre a planície,

e rios curvaram-se ao seu desejo,

terras ergueram-se, caminhos abriram-se,

e o homem aprendeu a moldar o espaço.

 

Em cada colina, um templo nasceu,

pedras alinhadas, altares ao céu,

e a voz dos sacerdotes ecoou,

clamando ordem, proteção, devoção.

 

Os deuses observaram, satisfeitos,

mas Enlil, austero, manteve distância:

o homem deveria trabalhar, construir, criar,

aprender a medir a água, dividir a terra,

guardar a cidade do caos que espreita.

 

E assim as primeiras cidades respiraram,

nasceram da orientação divina,

e o sopro de Enlil ainda permanece

em cada pedra erguida, em cada rio traçado,

lembrando que a civilização é fruto

de disciplina, coragem e sabedoria.

 

 

(O poema inspira-se no mito mesopotâmico de Enlil, deus do vento, da autoridade e da ordem. Segundo a narrativa, Enlil distribuiu territórios e orientou a fundação das primeiras cidades, templos e estruturas sociais, conferindo aos humanos ferramentas para cultivar a terra, organizar-se e manter a civilização.

O poema procura refletir o equilíbrio entre intervenção divina e responsabilidade humana, mostrando como a orientação dos deuses permitiu a criação de comunidades estruturadas e a organização do espaço urbano e agrícola. Através de imagens de rios, templos, pedras e campos, enfatiza-se que a civilização nasce da disciplina, da sabedoria e do esforço humano guiado por forças superiores.)

 

 

 

Inanna: Ascensão e Ambição

 

No centro das planícies,

Inanna olhava para o céu,

desejando tocar as nuvens,

erguer-se acima dos homens e dos deuses.

 

A torre crescia, pedra sobre pedra,

cada bloco carregado pelo suor do homem,

cada degrau um sonho de poder e glória.

 

Os ventos de Enlil sussurravam avisos,

o destino do cosmos equilibrado,

mas Inanna, destemida, avançava,

seu olhar fixo na vastidão do firmamento.

 

E no eco dos martelos e das vozes,

aprendizados surgiam,

o homem descobria medidas, ângulos, artes do barro e da pedra,

sabedoria adquirida através do esforço e da disciplina.

 

Mas a ambição não conhece limites:

as nuvens recusaram seu toque,

e a torre suspendeu-se entre a terra e o céu,

lembrando que até os deuses têm leis,

e que a grandeza é medida tanto pela altura alcançada

quanto pela harmonia que se mantém.

 

 

(O poema inspira-se em relatos mesopotâmicos sobre Inanna, deusa do amor, da guerra e da ambição, e na tradição ligada à construção da Torre de Babel, símbolo da ascensão humana e divina. O mito reflete a busca por conhecimento, poder e contato com o divino, ao mesmo tempo que alerta para os limites da ambição.

O poema procura captar a tensão entre esforço humano, aprendizado e disciplina e a intervenção divina, mostrando como a construção, física e simbólica,  permite o desenvolvimento da civilização, mas também recorda que a harmonia cósmica impõe limites. A torre representa tanto a grandeza da criatividade humana quanto os riscos do excesso de ambição, equilibrando sonho e ordem.)

 

 

 

Sete Portas do Destino

 

No abismo silencioso,

sete portões se erguiam,

guardados pelos juízes do submundo,

olhos como chamas frias, mãos de pedra.

 

Cada alma que descia

era medida, pesada, examinada,

o destino traçado nas sombras

antes que a luz retornasse à superfície.

 

O murmúrio dos rios sombrios

trazia confissões não ditas,

segredos que a vida tentara esconder,

esperanças e temores misturados.

 

Os sete juízes não conheciam compaixão,

mas apenas ordem e equilíbrio,

sabendo que cada escolha, cada erro,

ressonaria através do tempo e do barro do mundo.

 

E quando a última porta se fechava,

a alma saia transformada,

aprendendo que a justiça não é humana,

que o destino não é negociável,

e que até o sopro divino

respeita o rigor das Tábuas do Submundo.

 

 

(O poema inspira-se nos mitos mesopotâmicos sobre o submundo e os Sete Juízes, entidades responsáveis por julgar o destino das almas após a morte. Cada juiz representava uma faceta da justiça cósmica, avaliando ações, escolhas e intenções da vida terrena.

O poema procura refletir a rigidez e imparcialidade do destino, mostrando como a ordem cósmica é mantida através do julgamento, independentemente dos desejos humanos ou da intervenção divina. Os sete portões e os juízes simbolizam a passagem inevitável e transformadora, lembrando que a justiça e o equilíbrio do universo transcendem a compreensão mortal.)

 

Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.