Ó Osíris, senhor do reino invisível,
aceita minha alma em tuas mãos,
guia-me pelos rios escuros do submundo,
abre as portas que só os justos atravessam,
que cada sombra se transforme em luz.
Anúbis, guardião atento,
vigia o caminho e afasta as trevas,
transforma cada medo em coragem,
cada dúvida em sabedoria,
cada passo em travessia segura.
Rá, sol eterno que renasce,
ilumina os corredores do desconhecido,
que minha consciência desperte
e que cada palavra sagrada seja escudo,
cada encantamento, ponte para a eternidade.
Que o coração seja leve como pena,
que a mente se purifique em silêncio,
que a voz do espírito se eleve,
livre de correntes, livre do apego,
e que a morte se revele passagem,
passagem que conduz à vida eterna.
Que os símbolos, animais e estrelas
caminhem comigo como aliados,
que cada feitiço abra portais,
cada invocação proteja e ensine,
cada palavra seja bússola e luz,
e que eu compreenda a ordem invisível,
a harmonia que sustenta o universo.
Que meu espírito seja como o rio,
que atravessa rochas e desfiladeiros,
não se perde, não se fragmenta,
mas encontra o mar do eterno,
onde tudo se transforma, tudo se integra.
Que a travessia seja também aprendizagem,
que cada obstáculo desperte virtude,
cada sombra revele força,
cada silêncio, clareza,
e que, ao final, o espírito desperte pleno,
livre do medo, da dúvida e do tempo,
compreendendo que a vida e a morte
são apenas um fio contínuo,
uma dança de luz e sombra,
um cântico que atravessa todos os mundos.
Que os deuses me acompanhem,
que cada invocação se torne presença,
que cada passo seja vigilância e sabedoria,
e que eu chegue ao fim da travessia
com a alma inteira, consciente, desperta,
e que a eternidade, antes distante,
se revele dentro de mim, agora, sempre.
(Este poema é uma interpretação poética dos Textos dos
Mortos egípcios, escritos há milênios para guiar a alma na travessia do mundo
dos mortos. Não se trata de uma tradução literal, mas de uma tentativa de
captar a essência ritualística, espiritual e simbólica desses textos antigos.
O objetivo é transportar o leitor para a jornada da
alma, através de rios, portais, sombras e luzes, refletindo sobre coragem,
vigilância, purificação e transformação. Cada encantamento e invocação foi
reinterpretado para criar um fluxo contínuo, contemplativo, que permita sentir
o poder e a profundidade da tradição egípcia, mas também tocar o presente e a
experiência interior de cada ser.
O poema busca transmitir que a morte não é fim, mas
passagem, e que a travessia da alma é também metáfora para o autoconhecimento,
o despertar e a integração das sombras e luzes internas. É um convite à
reflexão, à introspecção e à conexão com forças que transcendem o tempo,
mostrando que o humano e o divino caminham lado a lado, mesmo nas sombras do
desconhecido.)
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.