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segunda-feira, 25 de agosto de 2025

O Lamento de Gilgamesh

Meu amigo, meu irmão de alma,

meu igual na força e no riso,

a terra levou-te, e comigo levou

uma parte que nunca mais poderei tocar.

 

O teu riso ecoava em mim como torrentes

que não secam, e agora só há silêncio.

Cada passo que dou, sinto a tua sombra

a guiar-me e a ferir-me ao mesmo tempo.

 

Como suportar estar só,

quando o mundo se abriu em tua ausência?

As estrelas parecem mais frias,

os ventos mais pesados,

e até o sol hesita em aquecer meu peito.

 

Se alguma vez fomos apenas amigos,

que os deuses me perdoem:

pois não há amizade que consuma a alma

como esta chama que me arde por ti.

 

Volta, Enkidu, ao meu lado,

ou deixa-me pelo menos viver

com a tua lembrança como escudo,

como espada, como abraço que nunca cessa.

 

Meu coração chora rios que não param,

meu corpo procura a tua forma na noite,

minha voz clama contra a injustiça do mundo,

porque o que fomos juntos foi mais que vida:

foi essência, foi plenitude, foi destino.

 

Mesmo sem ti, respiro teu espírito,

aprendo com a tua coragem, sigo tua memória,

e nas pedras antigas, nos rios e no vento,

sei que partes de ti permanecem em mim,

como se o amor tivesse tomado forma eterna.

 

 

(Este poema busca traduzir a intensidade emocional e espiritual da relação entre Gilgamesh e Enkidu, como apresentada no Épico de Gilgamesh. Mais do que uma amizade comum, o vínculo entre eles é retratado como uma união profunda da alma, marcada por lealdade, admiração e amor que transcende categorias modernas de relação.

O luto de Gilgamesh pela perda de Enkidu revela a dimensão humana da dor, da vulnerabilidade e da transformação interior. Ao escrever este poema, procurei captar tanto a devastação da perda quanto a força que emerge do luto, refletindo a busca universal de significado, identidade e conexão diante da finitude da vida.

Embora o texto original não explicite sexualidade, a intimidade emocional entre os personagens inspira uma leitura aberta, onde a intensidade do amor, da amizade e da devoção se sobrepõe a definições rígidas. O poema é, portanto, um convite à reflexão sobre amizade, perda, memória e transcendência.)

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