A floresta já é templo,
as cachoeiras já são salmos,
as árvores erguem-se como colunas
onde o vento celebra a missa do invisível.
O povo que dança à beira do fogo rito,
não carece de cruz imposta,
porque a vida pulsa neles
como um evangelho mais antigo
do que qualquer livro escrito.
O que chamam de “salvação”
é apenas outra corrente,
uma máscara de ouro
sobre o rosto da mesma violência.
Eles já conhecem o sagrado:
vive na seiva,
no canto dos pássaros,
na memória das avós
que transmitem, sem altar nem dogma,
a eternidade da floresta.
Não lhes roubem a alma de novo.
Respeitem o que não precisa ser batizado.
O divino não é monopólio,
é rio que corre em muitos leitos,
é chama que não cabe em cálices.
Deixem que os povos da Amazónia
sejam donos da própria luz,
pois ninguém precisa de pastor
quando já fala a língua dos deuses.
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