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domingo, 31 de agosto de 2025

Não Precisam de Cruz

A floresta já é templo,

as cachoeiras já são salmos,

as árvores erguem-se como colunas

onde o vento celebra a missa do invisível.

 

O povo que dança à beira do fogo rito,

não carece de cruz imposta,

porque a vida pulsa neles

como um evangelho mais antigo

do que qualquer livro escrito.

 

O que chamam de “salvação”

é apenas outra corrente,

uma máscara de ouro

sobre o rosto da mesma violência.

 

Eles já conhecem o sagrado:

vive na seiva,

no canto dos pássaros,

na memória das avós

que transmitem, sem altar nem dogma,

a eternidade da floresta.

 

Não lhes roubem a alma de novo.

Respeitem o que não precisa ser batizado.

O divino não é monopólio,

é rio que corre em muitos leitos,

é chama que não cabe em cálices.

 

Deixem que os povos da Amazónia

sejam donos da própria luz,

pois ninguém precisa de pastor

quando já fala a língua dos deuses.

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