No silêncio das ruas de Jerusalém,
uma voz caminhava entre homens, simples e intensa,
falando de amor, de justiça, de horizontes infinitos.
Era a semente de uma luz que não pedia coroas nem
templos.
Mas os homens, sempre atentos ao que pode ser
possuído,
tomaram essa luz e começaram a moldá-la.
Roma ergueu muralhas de pedra e hierarquia,
canonizou palavras, fechou portas,
decidiu o que podia ser lido e crido,
escondendo o que poderia libertar demais.
Séculos depois, no Oriente e no Ocidente,
o cisma dividiu os rios da fé:
Ortodoxos, Católicos,
tradições separadas, mas ainda ligadas
à mesma semente original que caminhava pelas ruas.
Então vieram os reformadores,
Martinho Lutero, Calvino, vozes que berraram contra a
estrutura.
Tentaram arrancar o véu do dogma,
reclamar o direito de cada alma interpretar,
mas os homens não deixavam de tentar conter,
de guiar, de moldar, de usar a fé como escudo e
espada.
E em cada cruz, em cada púlpito,
em cada ritual imposto,
uma verdade antiga foi esquecida:
que a essência de Cristo não era poder,
não era dominação, não era armas ou leis,
mas compaixão, dúvida, liberdade de coração.
Batistas, Metodistas, Pentecostais,
Adventistas e Mórmons, Testemunhas de Jeová,
seguiram caminhos próprios,
mas até nos textos novos,
a mão humana tentou ajustar, filtrar, controlar,
para que a fé servisse à ordem, e não ao espírito.
E ainda assim, no silêncio entre os livros,
nos textos esquecidos, nas sombras dos cânones,
uma verdade permanece, intocada:
nenhum poder humano pode apagar a centelha
que sussurra que o divino é liberdade,
que a fé não se impõe, apenas se encontra,
que a essência foi sempre entregue para ser vivida,
não possuída, não usada para matar, não usada para
dominar.
Hoje, milhares de vozes clamam,
algumas em cânticos, outras em guerra,
mas a essência da semente ainda persiste,
entre becos, pergaminhos e corações humanos:
a busca de cada alma pelo divino
não moldada, não amordaçada,
mas viva, silenciosa e eterna.
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