As pessoas não querem a verdade,
antes um consolo com voz doce,
um engano bem vestido
que não arranhe as paredes do ego.
Preferem a mentira que embala
à luz que cega;
a ilusão que acaricia,
à clareza que sangra.
Vivem de olhos fechados,
porque abrir é ver ruínas,
é encarar o vazio
onde juraram haver sentido.
Dizem:
“Dá-me qualquer coisa em que acreditar,
mesmo que seja farsa,
mas que me poupe o abismo.”
E não percebem que o abismo
é justamente o que pedem,
com cada crença escolhida pela comodidade,
com cada dogma colado como penso.
Mentem a si mesmos
com a fé que não transforma,
o amor que não escuta,
a justiça que protege o seu reflexo.
E assim,
alimentam a besta,
dão de beber à sombra
e chamam-lhe bem.
A verdade?
Ela está ali, imóvel,
sem adornos,
sem promessas,
mas ninguém quer dançar com ela,
porque não perdoa ilusões,
nem oferece anestesia.
Preferem a mentira,
porque a verdade,
a verdade exige coragem.
(Este poema nasce a partir de uma frase de Sigmund
Freud: “Nada é mais facilmente acreditado por nós do que aquilo que, sem
referência à verdade, vem ao encontro de nossas ilusões carregadas de desejo.”
A partir dessa reflexão, explorei poeticamente a tendência humana a rejeitar a
verdade quando ela fere, e a preferir a ilusão confortável que mantém intactas
as narrativas pessoais.
É um espelho levantado à condição contemporânea, onde
a mentira, se for doce, é preferida à verdade que exige confronto,
responsabilidade e mudança. Mais do que uma crítica, este poema é um convite à
coragem interior: a coragem de ver, de aceitar e de crescer para lá do conforto
da mentira.)
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