Não foste feito para andar sempre calçado,
nem para viver dentro de caixas,
com fios que brilham mais do que os teus olhos
O teu corpo,
esse que chamam matéria, como se fosse lama,
é fogo em repouso,
estrela que pulsa em silêncio.
Carregas o telemóvel todas as noites,
mas esqueces-te que também tu descarregas,
que também tu precisas de chão,
água,
luz
e descanso, que não se mede em horas
Cada célula tua é um tambor eléctrico,
cada sinapse, um relâmpago,
cada respiração, uma oração,
mesmo que não saibas.
O coração não bate só por instinto;
bate por impulso,
por magnetismo,
por memória de tudo o que és e já foste.
E foste sol,
foste rio,
foste árvore com raízes nos ossos,
foste bicho a rastejar no lodo antes de saber dizer "eu".
Então sê inteiro outra vez;
descalça-te,
bebe água que ainda canta,
pisa a terra como quem volta à mãe
e deixa o céu entrar pelos pés.
Porque o céu
não é um lugar,
é uma frequência,
e não se atinge com fuga;
atinge-se com presença.
Quando deixas de te defender da vida,
quando o corpo se sente seguro
e as tuas células dançam em harmonia,
não é só o céu que visitas:
tu levas o céu contigo.
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