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sábado, 2 de agosto de 2025

Corpo de Luz, Pés na Terra (para quem se esqueceu de onde vem a centelha) / J.M.J.

Não foste feito para andar sempre calçado,

nem para viver dentro de caixas,

com fios que brilham mais do que os teus olhos

 

O teu corpo,

esse que chamam matéria, como se fosse lama,

é fogo em repouso,

estrela que pulsa em silêncio.

 

Carregas o telemóvel todas as noites,

mas esqueces-te que também tu descarregas,

que também tu precisas de chão,

água,

luz

e descanso, que não se mede em horas

 

Cada célula tua é um tambor eléctrico,

cada sinapse, um relâmpago,

cada respiração, uma oração,

mesmo que não saibas.

 

O coração não bate só por instinto;

bate por impulso,

por magnetismo,

por memória de tudo o que és e já foste.

 

E foste sol,

foste rio,

foste árvore com raízes nos ossos,

foste bicho a rastejar no lodo antes de saber dizer "eu".

 

Então sê inteiro outra vez;

descalça-te,

bebe água que ainda canta,

pisa a terra como quem volta à mãe

e deixa o céu entrar pelos pés.

 

Porque o céu

não é um lugar,

é uma frequência,

e não se atinge com fuga;

atinge-se com presença.

 

Quando deixas de te defender da vida,

quando o corpo se sente seguro

e as tuas células dançam em harmonia,

não é só o céu que visitas:

 

tu levas o céu contigo.

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