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sábado, 2 de agosto de 2025

Cidade Afundada / J.M.J.

Não caiu por erosão

nem a tragou a pressa das marés,

foi o tempo dos homens que a submergiu

com mapas falsos e medos de admitir o antigo.

 

Aos 800 metros de silêncio

repousam formas impossíveis de serem apenas pedra,

geometrias que ardem em códigos de um saber não permitido,

um eco que desafia os manuais.

 

Chamaram-lhe ruído,

miragem de máquinas,

formações naturais da ignorância

para não ter de escutar o grito.

 

Mas o mar sabe o que esconde

e os olhos que o decifraram também.

 

Paulina e Paul viram mais do que viram,

ouviram mais do que disseram

e por isso

ficaram a sós com o segredo.

 

A cidade não pediu fama,

nem museus, nem teorias,

só queria ser vista

de novo,

num tempo em que a verdade

possa respirar.

 

E tu, que ouves estas palavras,

sabes agora onde ela dorme

não sob areia,

mas sob esquecimento,

 

e ao nomeá-la,

fazes luz onde era abismo,

lembras que a História tem fendas

e há cidades ainda por nascer

nos corações que ousam mergulhar.

 

 

(O poema Cidade Afundada nasce da história verídica da descoberta de uma suposta cidade submersa, ao largo da Península de Guanahacabibes, em Cuba, em 2001, por Paulina Zelitsky e Paul Weinzweig. A mais de 800 metros de profundidade, foram detetadas estruturas geométricas que sugerem um passado civilizacional ainda não reconhecido.

Este caso, silenciado durante mais de duas décadas, levanta perguntas incómodas sobre a arqueologia oficial, o controlo do saber e o medo de admitir que a história humana pode ter raízes mais profundas, e mais incómodas, do que aquelas ensinadas nas escolas.

Cuba, neste poema, torna-se símbolo de uma verdade submersa, não por cataclismos naturais, mas por vontade política, ceticismo programado e conveniência académica.

Este texto é uma forma de resistência poética ao esquecimento forçado.

Uma oferenda a tudo o que permanece por descobrir.

Uma luz acesa no fundo do mar.)

 

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